São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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ESTÁTICA X DINÂMICA

Muitos já especularam sobre os efeitos dos ares de Brasília sobre as mentes privilegiadas, sobretudo de economistas. Quando tudo vai bem, costumam estender para um futuro distante o sucesso do momento.
A entrevista à Folha do diretor de assuntos internacionais do BC, Gustavo Franco, publicada no último domingo, às vezes flerta com esse tipo de pensamento positivo que já seduziu e até condenou tantas autoridades econômicas no passado.
A essência do otimismo de Franco é a sua convicção quanto ao caráter virtuoso do déficit comercial.
Antes de mais nada, é fundamental constatar o óbvio, para quem não está "tocando o modelo" de Brasília: o déficit comercial preocupa, sim, tanto observadores domésticos (e até dentro da própria equipe econômica) quanto observadores internacionais, dentro e fora das grandes instituições financeiras globais.
Gustavo Franco está certo ao desmistificar o déficit comercial em si, que afinal pode ser oportuno em economias emergentes. Mas o diretor do BC acertaria mais se, em vez de negar o óbvio (um desequilíbrio comercial crescente preocupa), apenas destacasse que, a seu ver, o problema não será enfrentado ou resolvido com mudanças no regime cambial.
As tensões na OMC, o repúdio a propostas de liberalização comercial em tecnologias de ponta, os recuos protecionistas (como para os brinquedos), a montagem e a remontagem de esquemas de apoio aos exportadores por meio do BNDES, a mudança tributária para beneficiar exportações compõem uma lista longa que mostra que o governo, em matéria de comércio exterior, está muito preocupado e aliás, por vezes, é pouco "neoliberal".
Franco escuda-se numa visão estática, ao dizer que déficits "grandes" nada têm de errado. O problema, entretanto, é dinâmico. Mais do que grandes, são crescentes, apesar de todas as medidas listadas acima.
Resta saber se os mercados terão a mesma paciência que Franco diz ter diante dos críticos que continuam alvejando a sua "âncora cambial".

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