São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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PARA NÃO ESQUECER

Quatro anos depois do impeachment do então presidente da República Fernando Collor de Mello, ainda não se conhece precisamente a amplitude do esquema financeiro liderado pelo seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. Entretanto, são cada vez maiores os indícios de que as irregularidades comprovadas até o momento e as punições aplicadas estão muito aquém da dimensão da rede criminosa formada em torno do empresário alagoano.
As informações sobre ligações de PC com a máfia italiana, publicadas ontem por esta Folha, reforçam as suspeitas de que o esquema tinha ramificações com o crime organizado, que pode ter preparado, inclusive, a fuga do empresário do país quando sua prisão preventiva foi decretada.
A Polícia Federal estima em US$ 1 bilhão o total desviado por PC. Grande parte desse dinheiro estaria no exterior, passando por diversos países dos continentes americano e europeu. Surge agora a perspectiva de o governo recuperar ao menos US$ 200 milhões que estariam na Itália.
Com os sucessivos escândalos do país, tendem a ficar cada vez mais distantes da opinião pública os desdobramentos do esquema de corrupção liderado por PC. Seu assassinato contribuiu para que a idéia de "caso resolvido" fosse disseminada.
Pois engana-se quem pensa dessa maneira. Desde que comandou a arrecadação de recursos para a campanha eleitoral de Fernando Collor de Mello à Presidência da República, PC formalizou uma rede complexa de desvio de recursos, para a qual, logicamente, contou com a participação de inúmeras pessoas com ramificações não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo.
Seu esquema não prosperaria sem o interesse dos corruptores, que, tradicionalmente, saem incólumes das investigações sobre corrupção na administração pública. A identificação dos beneficiados e do destino dos recursos desviados, se possível com a sua recuperação, constituem premissas básicas para a conclusão satisfatória de um dos maiores escândalos da história brasileira.

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