São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Conosco ninguém podemos

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Ao contrário do Paulo Francis e do Mário Henrique Simonsen, finados recentemente, meu QI deve ser baixíssimo. Eles se submeteram ao teste e tiveram classificações excepcionais -do que, aliás, deram provas. Nem foi por receio de um vexame que evitei a prova. Simplesmente não se deu o caso, não tive nem tiveram curiosidade de testar esse tipo de faculdade.
Apesar disso, com algum esforço poderei entender a teoria do quanta, a química infinitesimal. Com um pouco mais de concentração sinto que poderei até bolar uma fórmula matemática que descubra onde estão os ossos de Dana de Teffé. Só não entenderei a estratégia dessa comissão que tentou classificar o Rio para sediar a Olimpíada de 2004.
Já comentei o assunto, mas volto a ele. Pelo que sei, foi um senhor chamado Ronaldo Cezar Coelho, que derrotado na sua pretensão de sair candidato a prefeito pelo PSDB recebeu de FHC a consolação de chefiar dita comissão, com direito a um discutível título de "embaixador".
Isso explica a coisa. Ele se voltou compactamente para o público interno, formou uma espécie de conselho de notáveis locais que ocuparam espaços na mídia. Todos eram favoráveis à idéia: o Rio continua lindo, conosco ninguém podemos, terra mais linda não há, Cristo Redentor braços abertos sobre a Guanabara -e outros argumentos de sólida eficácia.
Trouxe a opinião de nossos oráculos maiores, dona Neuma da Mangueira e de dona Zica do Cartola -entidades sobrenaturais contra as quais o Comitê Olímpico Internacional seria reduzido a cinzas. Não demos para a saída.
Promover uma campanha contra o hábito de sujar a cidade, usar a verba concedida pelo BID para iniciar a despoluição da baía (dinheiro e projeto existem há anos), bastavam esses dois itens colocados em execução e já poderíamos mostrar ao COI nossa capacidade de aspirar não apenas a uma Olimpíada, mas a um estágio de civilização.

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