São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Só falta uma traição

Só falta uma traição
FERNANDO RODRIGUES
Brasília _

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Só falta uma traição para que a CPI dos Precatórios consiga atingir os políticos que se beneficiaram das vendas irregulares de títulos públicos. Uma traição qualquer.
É sempre assim em CPIs. No caso do Collorgate (92), foi um irmão (Pedro Collor) traindo outro irmão (Fernando Collor). O primeiro resolveu contar em público aquilo que antes só falava à boca pequena.
Depois, veio o motorista que relatou os carregamentos de dólares que fazia para o patrão.
Na CPI do Orçamento (93), repetiu-se o enredo. Um dos envolvidos, José Carlos Alves dos Santos, sentiu-se acuado e entregou a quadrilha toda. Mais uma traição.
No caso dos precatórios, o bando ainda está unido. Ninguém passa da conta nas acusações mútuas. O jogo de empurra vai continuar assim. Até que alguém se sinta perdido.
É com isso que contam os senadores.
Já ficou claro que há um acordo tácito entre os envolvidos. Não é por acaso que Wagner Ramos começou a defender muita gente em público. Por exemplo, o prefeito de São Paulo, Celso Pitta -mesmo tendo sido demitido por justa causa.
Os senadores avaliam que Ramos só fará isso até o ponto em que ele se sinta protegido. Se perceber que está indo para o buraco, não terá mais receio de puxar mais gente para baixo. E poderá trair o código de silêncio que vigora no momento entre os envolvidos.
"A vida desse Wagner Ramos é uma simulação. Vive como um pobre e tem R$ 1,3 milhão no exterior. Nós vamos apertá-lo", diz Roberto Requião (PMDB-PR), o relator da CPI.
"Ele terá de contar como mandou para fora esse R$ 1,3 milhão. Por onde passa R$ 1,3 milhão pode passar muito mais. Mas acho que o ponto alto será o momento da acareação de Wagner com quem diz que ele recebeu muito mais", afirma Esperidião Amin (PPB-SC), um dos membros da CPI.
Será uma semana quentíssima. Se os senadores apertarem como estão prometendo, a traição pode estar muito próxima de se tornar realidade.

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