São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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PF aponta intrusos na equipe de peritos

XICO SÁ

XICO SÁ; ARI CIPOLA; JOÃO PAULO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Médico de origem italiana e estudante coreano integraram grupo de Badan Palhares a convite do legista

ARI CIPOLA
Relatório feito pela PF (Polícia Federal), anexado ao processo sobre o assassinato do empresário Paulo César Farias, revela que duas pessoas estranhas se infiltraram na equipe do legista Fortunato Badan Palhares durante os trabalhos de necropsia e perícia.
Segundo documentos do processo, os dois intrusos foram identificados como o médico Enrico Di Vaio, filho de italianos, e o estudante de medicina coreano Hyung Kwnon Kim.
Em depoimento ao delegado Marcos Omena, da PF, eles contaram que pediram a Badan, durante o vôo de São Paulo com destino a Maceió, para acompanhar o trabalho como observadores.
Os policiais descobriram que Vaio realmente era médico, depois de consulta feita ao CRM (Conselho Regional de Medicina) de São Paulo, pois ele havia dito que atuava na cidade de Mongaguá (SP).
A situação do coreano foi mais complicada. Kim, segundo a PF, usou documentos falsos para se identificar como médico legista da Prefeitura de Mongaguá.
Descoberta a fraude, ele se disse estudante do 5º ano na Faculdade de Medicina de Santos.
Filmes e gravações
Infiltrados em todas as reuniões da equipe do legista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Vaio e Kim gravaram todas as conversas, produziram quatro filmes de fotos e manusearam objetos em processo de análise.
A PF apreendeu os filmes e as fitas cassetes com as gravações e liberou os intrusos flagrados como falsos assistentes dos peritos.
Na época, no final de junho do ano passado, os policiais ainda chegaram a imaginar que Vaio e Kim poderiam ser "espiões" ligados aos autores do crime -esse tipo de ação é um dos clichês de filmes sobre máfias.
Comunicaram o fato ao delegado Cícero Torres, da Polícia Civil de Alagoas, responsável oficialmente pelo comando das investigações. A Polícia Federal apenas auxiliou nas atividades.
Com o ritmo avançado das apurações, que apontavam para a tese de crime passional, a dupla fori definida como "malucos" em busca de uma lição de anatomia.
Torres disse que foi junto com o delegado Omena deter os intrusos. Eles estavam no mesmo hotel da equipe de Badan, no hotel Ponta Verde, localizado na praia mais badalada de Maceió (AL).
"O Badan pediu autorização para que os dois acompanhassem os trabalhos. Concordei, porque não vi problemas na presença de pessoas indicadas pelo Badan", afirmou Torres.
A versão de Badan
Fortunato Badan Palhares confirmou ontem que Di Vaio e Kim acompanharam "à distância" o trabalho de perícia realizado por sua equipe em Maceió.
Segundo Badan, os dois estavam em férias na época e o procuraram para que pudessem fazer parte do grupo oficial de peritos.
O legista confirma a versão do delegado Cícero Torres de que o policial teria dado autorização à dupla para acompanhar a perícia.
Ainda segundo Badan, ficou estabelecido que Di Vaio e Kim não poderiam ter participação direta nos trabalhos, nem filmar, gravar ou fotografar os passos da equipe.
"No momento das exumações, por exemplo, eles estiveram presentes quando da retirada dos corpos, mas não puderam assistir aos exames necroscópicos dentro do IML", disse.
Segundo Badan, esse tipo de acompanhamento durou até o momento em que Di Vaio teria apresentado uma carteira funcional adulterada da Polícia Civil de São Paulo. Ele seria perito criminal em Santos.
"A PF nos convocou, perguntado se tínhamos conhecimento daquilo. Como não tínhamos, os dois foram desligados do convívio com o pessoal", afirmou. Badan disse que já conhecia Di Vaio e Kim da Associação Paulista de Medicina.

Colaborou João Paulo Soares, da Folha Campinas

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