São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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FÁBRICAS DE DIPLOMAS

Os resultados do chamado provão, aplicado pelo governo federal, publicados ontem nesta Folha por Gilberto Dimenstein, comprovam um quadro nacional já conhecido, mas nem por isso menos desolador.
A rede privada de 3º grau oferece, em geral, um ensino de qualidade muito inferior à das universidades públicas. Como no 1º e no 2º graus a situação é exatamente a inversa -na maioria dos casos, a rede particular está em melhor situação-, as piores faculdades, que menos exigem dos alunos e, além de tudo, cobram caro por isso, acabam servindo à população de menor poder aquisitivo.
De início, os resultados do provão já cumprem a importante função de identificar as maiores deficiências do setor. Essa simples constatação já deverá causar sobre as instituições particulares uma pressão para que aprimorem seus métodos visando atingir padrões mínimos de qualidade -mesmo que a única motivação para isso seja a disputa no mercado.
Com base nos dados que reuniu, é de esperar que o governo aja rapidamente para reverter o quadro atual. Logicamente, os resultados de apenas um teste não são conclusivos e não permitem decretar a completa incapacidade de uma faculdade.
Mas é notório que existem instituições que apenas produzem diplomas, sem formar profissionais minimamente preparados. Nesses casos, é necessário que o governo federal determine um prazo para que elas atinjam um padrão aceitável de ensino. Se não for obtida a melhora exigida, elas devem ser impedidas de seguir com sua atividade.
O 3º grau também não pode ser visto como uma realidade isolada. Para que os alunos de famílias de baixa renda possam ter uma base que lhes permita cumprir as exigências de um curso superior de qualidade, o ensino básico deve ser a grande prioridade do poder público na área.
Dessa maneira, as atuais "fábricas de diplomas", desde que sob uma fiscalização eficiente das autoridades governamentais, serão pressionadas a elevar o padrão de ensino ou simplesmente fechar as portas.

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