São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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A palavra do filho

LUÍS NASSIF

A coluna recebeu carta do sr. Fabiano Cheferrino Barreto Nahoum, filho de um dos principais acusados pela CPI, Fábio Nahoum, da corretora Vetor.
Continuo afirmando que, até agora, não disponho de elementos para assegurar se Nahoum é inocente; nem para garantir que seja culpado de tudo que lhe atribuem.
Mas não serão patrulhamentos primários -como os do senador Roberto Requião- que desviarão a coluna de sua linha permanente, de dar a palavra a quem não tem espaço para se defender.
Fiz isso com o caso Escola Base, Clínica Santé, Osmar Santos, Alceni Guerra, Adib Jatene, com os petroleiros e continuarei fazendo sempre que me deparar com vítimas de linchamentos públicos -a não ser que desista de vez de praticar jornalismo.
E é em nome desse princípio que reproduzo a carta recebida:
"Caro Sr. Luís Nassif:
"É difícil lhe escrever esta mensagem sem ter na cabeça o 'chapéu' de filho de um dos investigados na CPI dos títulos públicos.
"Fábio Nahoum é meu pai. É também um homem de quem muito me orgulho, principalmente pelos seus princípios, caráter e palavra.
"Tomei a decisão de lhe escrever após ler seu artigo 'A CPI e os dentes do tigre'.
"No momento em que sentimos na pele a sanha devastadora da imprensa, poderia ser fácil enxergar sua coluna apenas como um balsâmico apoio à nossa defesa.
"Mas é aqui que quero tirar aquele 'chapéu' e colocar outro: o de brasileiro, espectador dos acontecimentos de nosso dia-a-dia. E é nessa condição que gostaria de parabenizá-lo por sua isenção.
"Acredite, sei que não é fácil levantar ou respaldar uma questão que contrarie um consenso já formado pela maciça maioria da mídia. E acho que o motivo pelo qual devo parabenizá-lo é, de fato, por ter o sr. tido coragem e clareza ao fazê-lo: primeiro, ao dar espaço para que um homem atacado pudesse ao menos ser ouvido; segundo, ao conseguir enxergar com clareza dentre a nuvem de meias-verdades levantadas pelos senadores-inquisidores.
"Acredito que nunca mais vou ler um jornal da mesma forma como fazia antes de tudo isso começar. Estou absolutamente chocado com a leviandade, ganância, ignorância e parcialidade. Houve mesmo ocasiões em que meu pai foi chantageado (não há outra palavra) a conceder uma entrevista, sob pena de, caso contrário, o jornalista fazer, conscientemente, a divulgação de inverdades.
"Pelo que venho acompanhando em sua coluna, tenho certeza de que não conseguirão intimidá-lo nesta sua busca, quase que particular, pela verdade.
"De qualquer forma, desejo-lhe de coração e, à parte meu interesse pessoal neste assunto, todo o sucesso em sua carreira.
"A verdade é tão simples que não deleita: são os erros e ficções que, pela sua variedade, nos encantam." Marques de Maricá, Máximas.
Jornalismo
Repito: não sei ainda onde está a verdade da CPI, nem mesmo sei se Nahoum é culpado ou inocente. Também discordo das generalizações: há jornais e jornalistas empenhados em remar contra a síndrome do escândalo.
Mas tenho certeza sobre onde está a verdade no jornalismo: na defesa permanente do direito de todos os acusados se fazerem ouvir, na defesa intransigente dos direitos individuais, seja do inocente ou do culpado.
É isso que confere dignidade à nossa profissão e nos ajuda a tornar o mundo um pouco melhor.

Email: lnassif@uol.com.br

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