São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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Bebeto viaja para dirigir o 'desconhecido'

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o Olympikus encerrar sua participação na Superliga, no próximo sábado, o técnico Bebeto de Freitas começa a se preparar para dirigir a seleção italiana principal.
Seu trabalho: "reconduzir" a equipe que mais títulos acumulou na última década de volta ao topo.
Dia 15 de abril, ele assume, por quatro anos, o cargo que pertenceu ao argentino Julio Velasco, que deu à Itália o título de campeã mundial e cinco da Superliga masculina. Mas fracassou na tentativa de levar a seleção ao ouro em Jogos Olímpicos.
"Será difícil prever o que vai acontecer com a Itália neste ano."
Ex-técnico da seleção brasileira por duas vezes, Bebeto acumula em seu currículo um título italiano de clubes, pelo Maxicono/Parma (89), juntamente com Carlão e o atual técnico do Chapecó, Renan, e uma medalha de prata, em Los Angeles-84. "Vou para a Itália porque confio no meu trabalho."
Antes disso, ele pretende ter um período de descanso no Rio, acompanhado da família.
A seguir, leia, os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
*
Folha - O senhor está indo assumir a seleção da Itália, que é a atual bicampeã mundial, mas que fracassou nas duas tentativas de ganhar a Olimpíada. O time se renovou para a Liga Mundial. Qual a sua expectativa?
Bebeto - Dirigir uma equipe como a Itália é um desafio, claro. Agora, a renovação é um processo que tem que acontecer. Mas na Liga isso será de forma forçada. Sete jogadores que estiveram em Atlanta-96 pediram para ser dispensados. Fiz uma convocação com muita gente nova, desconhecida.
Folha - Acredita que a Itália possa continuar como favorita?
Bebeto - Isso nós vamos ver com o tempo. Sei que encontraremos algumas dificuldades. Você substituir um jogador como um Bernardi, por exemplo, é uma coisa muito difícil. É difícil afirmar o que será a Itália este ano. Espero no próximo ano voltar a contar com todos os jogadores.
Folha - Se não é a Itália, qual a seleção mais forte do mundo hoje?
Bebeto - Os holandeses venceram os dois últimos torneios importantes (Olimpíada e Liga Mundial) e são muito altos. A Rússia é uma seleção que vai estourar. A Iugoslávia é outra que pode chegar.
Folha - Como será para o senhor enfrentar a seleção brasileira?
Bebeto - Olha, eu sou brasileiro, carioca e botafoguense. Não há nada na minha vida que vá mudar isso, nem pretendo. Vou trabalhar na Itália porque confio no meu trabalho. Agora, no dia que eu sentar no banco para dirigir uma equipe e não sentir nenhuma emoção, não vibrar com meus jogadores, eu abandono o vôlei. Com a seleção italiana não será diferente.
Folha - A FIVB (Federação Internacional de Vôlei) pretende estabelecer um tempo fixo para a disputa dos sets. Qual a sua opinião?
Bebeto - Eu sou favorável a que se encontre uma solução para a questão do tempo da partida. A TV é um aliado fundamental para o crescimento do esporte. Acho difícil fazer uma avaliação de qual seria o tempo adequado. Quarenta minutos, como a Federação propõe, eu acho muito. Mas tenho que ressaltar que todas as vezes que foram feitas modificações no vôlei, o esporte melhorou.
Folha - O senhor tem sido um crítico contumaz da forma de estrutura do vôlei brasileiro. A ida para a Itália não seria a renúncia dessa "queda-de-braço" com a CBV?
Bebeto - Na realidade, eu acho que não faz sentido você brigar sozinho. Tudo o que eu tinha que fazer eu fiz. Ninguém é mais criança. Ainda mais depois da Lei Zico, que permite a profissionalização do esporte, coisa que nós fizemos no Olympikus.
Folha - Que perspectivas o senhor tem com relação ao vôlei brasileiro?
Bebeto - O vôlei no Brasil é muito forte tecnicamente. Nunca faltaram bons técnicos e jogadores. O que precisa ser feito é um trabalho profissional nos clubes, para que o esporte tenha condições de crescer no país.
Folha - Qual foi a maior conquista de sua carreira?
Bebeto - O esporte é a soma das experiências. Acho que, como técnico, minha maior conquista foi ter podido colocar me prática todas as idéias que eu tive. Fico muito feliz por ter ajudado, contribuído para o crescimento do vôlei brasileiro.

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