São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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Rei Ronaldo

JUCA KFOURI

A comparação começa a ficar mesmo irresistível: só o Rei Pelé conduzia seu Santos à viradas como a que Ronaldinho conduziu o Barcelona diante do Atlético de Madrid.
Num jogo para se guardar na memória e contar para os netos, o melhor do mundo na atualidade marcou dois gols em menos de cinco minutos para mostrar ao seu time que o impossível era possível, bastava dar a bola para ele.
Por mais que o goleiro português Vítor Baía insistisse em falhar, numa noite de rara infelicidade (falhou em três dos quatro gols, duas vezes de maneira simplesmente grotesca), parecia que tudo estava escrito para misturar drama e êxtase.
Brilhantemente coadjuvado pelo extraordinário espanhol De La Peña e pelo injustiçado búlgaro Stoichkov -como um dia Pelé teve a respaldá-lo Jair da Costa Pinto e Coutinho-, Ronaldinho pairava em campo como um Michael Jordan, garantia de sucesso até mesmo quando tudo parece perdido.
E movido por aquela força estranha capaz de fazer de um jogo comum alguma coisa de inesquecível, Ronaldinho buscou o empate e inspirou a vitória final que fez dos 5 a 4 um resultado desses que entram para a história como marca de uma das maiores partidas já realizadas no futebol mundial.
Algo comparável ao célebre 4 a 2 do Santos, sem Pelé, sobre o Milan, no Maracanã, em 1963, segundo jogo para decidir o Mundial interclubes. Então, os italianos ganhavam de 2 a 0 no primeiro tempo e os brasileiros viraram -verdade que, soube-se depois, estimulados pelo doping.
Ou semelhante à dramática semifinal da Copa do Mundo de 1970, entre Itália e Alemanha, 4 a 3 com prorrogação para a Itália, histórica atuação de Beckenbauer, braço direito imobilizado na tipóia numa época em que não havia substituição.
Em jogos domésticos, como o da Copa do Rei da Espanha no lotado Camp Nou, a comparação possível em matéria de emoção pode ser feita numa remissão ao ano de 1971. Então, pelo Paulista, o Palmeiras saiu na frente do Corinthians por 2 a 0 no primeiro tempo, o alvinegro empatou no segundo, o alviverde deu a saída e fez 3 a 2, sofreu novo empate na saída corintiana e o gol definitivo no derradeiro minuto de jogo.
Jogos que fazem do futebol o esporte mais popular e comovente e que fazem de Ronaldinho algo assim que vai muito além da imaginação.

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