São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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Marrakech propõe "meditação" artística

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Dezessete dos mais importantes artistas contemporâneos do mundo, entre eles Anish Kapoor, Pat Steir e Rachid Koraichi, inauguram amanhã em Marrakech, no Marrocos, a mostra "Meditations". O Brasil comparece com Maria Carmen Perlingeiro, artista plástica carioca radicada há 11 anos em Genebra, na Suíça.
O evento, que inclui ainda recitais de música e poesia com grandes escritores e músicos de todo o mundo, foi organizado pela Art for the World, uma entidade dedicada à difusão de arte contemporânea no mundo (leia lista dos participantes em quadro ao lado). A mostra vai até 5 de abril.
"Meditações" vai contar com a participação de quatro artistas presentes na última edição da Bienal de São Paulo: o anglo-indiano Anish Kapoor, a anglo-iraniana Shirazeh Houshiary, o americano Sol LeWitt e o russo Ilya Kabakof.
A mostra tem ainda outro ponto de interseção com o evento brasileiro: a presença de Achille Bonito Oliva. O curador italiano, responsável por uma curadoria do segmento Universalis da Bienal, respaldou sua atuação em uma "diáspora", conceito que vai de encontro à mostra "Meditações".
Segundo Oliva, "a diáspora se fundamenta na produção de artistas cujas raízes não são estáticas, mas sim pertencentes a uma antropologia cultural e à memória".
Cada artista vai expor sua obra em uma "célula" da Medersa Ibn Youssef, uma universidade islâmica criada no século 14 e dedicada ao ensino do Alcorão. As células, pequenos quartos usados pelos estudantes durante sua estadia na medersa, não possuem luz artificial e são iluminadas apenas pela luz natural de uma pequena janela.
Perlingeiro vai apresentar ali sua escultura "Lunatiques" (Lunáticas), uma peça em alabastro composta de cinco elementos apresentada no ano passado em São Paulo, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, mas em tamanho diverso.
São cinco lascas de pedra talhadas a mão, cada uma com um tamanho e uma curva diferentes.
"São extremamente pontudas, como sabres. Escolhi essa peça porque ela tem uma forte entrada no mundo islâmico, que tem como um de seus maiores símbolos o crescente lunar. Achei que, entre os meus trabalhos, este seria o que mais ficaria à vontade em um país com uma cultura tão diferente da nossa", disse a artista à Folha.
O alabastro é uma pedra translúcida, que simula uma emissão interior de luz.
"Eu não poderia entrar ali com uma obra qualquer, mas apenas com uma escultura que contivesse um grau de poesia que fosse compreensível para nós brasileiros e também para os marroquinos. O alabastro tem uma característica silenciosa, que tem a ver com o título da mostra."
Adelina von Fürstenberg, a fundadora e presidente da Art for the World, explica no release da mostra que os artistas foram escolhidos "por sua luta para alcançar uma dimensão maior que a simples representação do cotidiano e por vislumbrar sua obra como uma busca pessoal de existência".
Além da promoção de mostras de arte contemporânea, a Art for the World trabalha com eventos de música e poesia, eventos educacionais, projetos orientados para uma leitura do meio ambiente como mídia artística e também com a promoção de minorias culturais. Fürstenberg fundou, em 1974, o Centro de Arte Contemporânea de Genebra.
No ano passado, realizou mostras de Miguel Angels Rios, Teresa Serrano e Gerardo Suter em Tepoztlan (México) e outra de Robert Rauschenberg e Darryl Pottorf em Veneza, na Itália.
Curiosamente, assim como "Meditações", os dois eventos se realizaram em edifícios religiosos.
Simultaneamente à mostra em Marrakech, a entidade realiza em Genebra uma mostra de fotografias de Sebastião Salgado.

Art for the World: 15, route de Florissant, CH 1206, Genebra, tel. 00 41 22 789-1557, fax 00 41 22 347-7688.

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