São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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Supermercado de estilos mistura tudo

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

O conceito de supermercado de estilos começa a ser uma das marcas da cultura jovem dos anos 90. O termo foi cunhado pelo pesquisador de moda inglês Ted Polhemus e começa a ganhar adesão dentro da observação do universo das imagens, de moda e comportamento. Vale a pena acompanhar, já que é a cultura jovem, e não o dinheiro, a chave para a compreensão desta década.
"Nos últimos 50 anos, a ascensão das subculturas -grupos de estilo como hippies, punks etc.- tem reforçado o papel da aparência como uma marca de que a pessoa é membro de algum grupo. A diferença é que hoje a complexidade de mensagens dessa aparência, que torna impossíveis ou um exercício de absurdo transcrições literais dessas mensagens", escreve o autor em seu segundo livro, "Style Surfing".
Assim, alguns conceitos se misturam, nas ruas e nas passarelas, mixando referenciais até então inimagináveis. O inglês John Galliano, por exemplo, surpreendeu -de novo- Paris nesta semana, com seu desfile para a maison Dior, em que pôs em ação pin-ups chinesas, interpretadas pelas supermodelos.
O gender-bending (troca de gêneros) de sempre é outra marca, criando uma categoria que seria o neo-unissex. O ícone dessa androginia ainda mais sofisticada é a modelo Mila Jovovich, que praticamente substitui Stella Tennant nesse quesito.
No extremo: Mila acaba de estrelar editorial definitivo na "Vogue" Itália, com fotos de Peter Lindbergh, com um esboço de ar masculino em um só lado do rosto.
Looks de streetwear obtidos com roupas de grife, bem como visual underground criado com peças refinadas e caras são outras marcas. O glamour desta década que funciona entre os jovens inclui um certo quê de decadência e destroy, marcado pela individualidade e personalidade de quem o carrega.
Os fashion victims, que consomem cegamente as últimas tendências da moda, transformam-se, nos 90, em estrategistas do estilo.
"Deliberadamente enviar sinais confusos e até contraditórios", como explica Ted Polhemus, faz parte das regras da nova brincadeira. Até porque, como disse a pesquisadora de moda Ann Hollander, em sua bíblia "Sex and Suits", às vezes as pessoas usam as coisas por nenhum motivo.
O novo romantismo é outra característica. Ao contrário do que se possa pensar, as roupas leves, fluidas e esvoaçantes desta estação não são feitas para mulheres tolas. Incluem um temperamento centrado, forte e consciente, valorizando, portanto, o paradoxo.

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