São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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A metrópole e o trópico

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - No afã de agradar a cariocas e franceses reunidos nos jardins do belo palácio do Itamaraty no Rio, por conta da passagem do presidente Chirac pela cidade, FHC disse anteontem que era "quase conterrâneo" dos estrangeiros e reafirmou sua nativa carioquice.
Lembrou que nasceu aqui e foi em frente: afirmou para o visitante ilustre e para os franceses em geral -aliás, francês adora o Rio, presumivelmente desde Villegaignon- que essa é "a" cidade que conseguiu unir satisfatoriamente o trópico e a metrópole.
Sim, disse ele, em outras palavras, aqui a união deu certo.
Discordo, já que estamos numa democracia e pode-se discordar do presidente -sempre é bom lembrar que até um punhado de anos atrás não podia, não.
A união metrópole/trópicos deu certo no Rio em termos, e isso é até presumível, não só aqui, mas em qualquer parte do planeta; não precisamos ser os perfeitos.
Há exemplos de sobra de situações em que o trópico atazanou a urbe ou em que a pulsação metropolitana invadiu a placidez tropical, tornando a mistura indigesta.
A recente fubecada que o Rio recebeu do Comitê Olímpico Internacional é a prova mais fresquinha da incompatibilidade de gênios que pode haver entre a metrópole e o trópico.
Quer coisa mais tropical e/ou tropicalista que índios dançando na beira do mar, o povo, inzoneiro, a cantar meu Brasil brasileiro da cidade cheia de encantos mil? Pois é, mas faltou digamos metropolização para que uma Olimpíada por aqui fosse cogitada seriamente pelos europeus que decidem.
Na verdade há exemplos demais de que a união está longe de ser perfeita -embora factível, muitas vezes agradável e originalíssima sempre.
Povo na rua, carro na calçada e lá vem o arrastão com sua galera u-tererê.
E é dessa mistura que surgem os joãosinhos trintas que nos encantam, embora ela, a mistura, dificulte tanto as vidas de uns e outros.
A perfeição não é necessária, presidente.

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