São Paulo, sábado, 15 de março de 1997 |
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Autor cria para duplo paradoxo
MARILENE FELINTO
A personagem literária é um ser fictício -"expressão que soa como paradoxo", diz o crítico Antonio Candido. Afinal, ele pergunta, como pode uma ficção ser? Como pode existir o que não existe? Mas a criação literária está fundada exatamente sobre esse paradoxo: "Um certo tipo de relação entre o ser vivo e o ser fictício, manifestada por meio da personagem, que é a concretização deste". O primeiro paradoxo de Miles é atribuir status de ser vivo a Deus. O segundo, criar um personagem para vestir essa sua "atribuição de ser vivo" chamada Deus. Além disso, pode-se dizer que, se a personagem constitui a ficção, ao transformar Deus em personagem, Miles confere à "Bíblia" qualidade de texto ficcional. Mas isso, que poderia ser visto como uma controvérsia em seu trabalho, não é algo novo. O próprio Miles cita o crítico Harold Bloom como exemplo de alguém que humaniza Deus: "Harold Bloom trata Deus como um personagem humano: petulante, teimoso, arbitrário, impulsivo". Ao tratar seu biografado como personagem, o objetivo de Miles foi dar transparência a Deus, já que a ficção é o único lugar -em termos da teoria da ciência- em que os seres humanos se tornam transparentes. Mas é preciso fé para achar que ele conseguiu. (MF) Texto Anterior: Miles prefere versão hebraica Próximo Texto: Samuel Huntington propõe mudança radical na geopolítica Índice |
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