São Paulo, sábado, 15 de março de 1997
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Samuel Huntington propõe mudança radical na geopolítica

NELSON ASCHER
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em 1993, o norte-americano Samuel P. Huntington, professor de História em Harvard, fundador e co-editor de "Foreign Affairs", publicou no seu periódico um artigo que gerou intensa discussão. Desde então, ele desenvolveu suas idéias num livro, "The Clash of Civilizations and the Remaking of the World Order" (O Choque de Civilizações e a Reorganização da Ordem Mundial), onde propõe uma mudança radical do paradigma utilizado para se entender a política internacional.
Segundo Huntington, com o fim da Guerra Fria, em 1989-91, inaugura-se uma era na qual povos, países e populações passam, ou melhor, voltam a se relacionar enquanto blocos civilizacionais.
No lugar de duas superpotências, cada qual defendendo doutrinas que apontam para dois futuros alternativos, o que se delineia agora é um entrechoque de cerca de meia dúzia de distintas civilizações.
"Civilização" é uma palavra notoriamente imprecisa, mas, para o historiador, os povos que compõem cada qual se vêem a si mesmos como um conjunto relativamente coerente e dotado de uma identidade própria que, embora possa decorrer de elementos étnicos ou nacionais, fundamenta-se sobretudo na religião.
Suas principais civilizações são: o Ocidente católico/protestante; a cristandade ortodoxa; a Índia e os hinduístas; as nações budistas; a China e seus arredores etnicamente chineses ou de tradição confuciana; o Japão; o Islã.
Há duas outras civilizações que, pouco esmiuçadas pelo autor, estariam numa espécie de zona cinzenta de indefinição: a africana (descontada a África islamizada) e a latino-americana.
Cada uma dessas civilizações percebe-se cada vez mais claramente enquanto tal e, mais importante, percebe as outras como diferentes e como possíveis rivais. A ideologia não contaria mais e a idéia de que a modernidade equivaleria à homogeneização do mundo de acordo com os padrões da classe média européia ou americana não convence o autor.
Seu argumento mais forte é o de que, a partir das guerras do Afeganistão e do Golfo, os conflitos centrais e mais perigosos da atualidade acontecem onde civilizações rivais se tocam e, mesmo que tenham começado por razões distintas, vêm se transformando em conflitos intercivilizacionais.
Isso sucede na Bósnia e na Tchetchênia, no Ceilão e no Oriente Médio. São entrechoques como esses que, afirma Huntington, podem, hoje em dia, degenerar numa conflagração mundial.

Livro: The Clash of Civilizations and the Remaking of the World Order
Autor: Samuel Huntington
Lançamento: Simon & Schuster
Quanto: US$ 26 (370 págs.)
Onde encontrar: livraria Cultura (tel. 011/285-4033)

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