São Paulo, domingo, 16 de março de 1997 |
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CPI favorece debate sobre sigilo, diz Mauch
SILVANA QUAGLIO
Segundo Mauch, entretanto, essa seria uma boa oportunidade para se fazer uma rediscussão das regras do sigilo bancário. Em entrevista à Folha na última sexta-feira, em São Paulo, Claudio Mauch afirmou que o BC agiu corretamente no episódio dos precatórios. * Folha - O BC está sendo criticado por ter permitido que Estados e municípios emitissem títulos para pagar precatórios inexistentes... Claudio Mauch - As pessoas sempre buscam atirar a responsabilidade para alguém. Não é atribuição do BC acompanhar se um Estado paga ou não o que deve. Folha - Mas o BC tem um departamento de dívida pública. Mauch - É, mas não tem que ter isso lá. A parte fiscal está no Banco Central e está no lugar errado. Quem fiscaliza verba pública é o Tribunal de Contas. Folha - E a fiscalização falhou? Mauch - Não falhou. Essa conexão toda foi descoberta pelo Banco Central no ano passado. O Banco Central não estava investigando precatório e muito menos pessoas. Verificamos algumas instituições que estavam fora de padrão. Chegamos a alguns indícios muito claros, que em um dos casos foi usado politicamente (referindo-se à campanha para prefeito em São Paulo na qual se discutiu um prejuízo que o então secretário das Finanças e atual prefeito, Celso Pitta, teria causado à prefeitura com a negociação de títulos). Mas o banco se manteve fiel à sua forma de trabalhar de não fazer uso político das informações que tem, até que chegamos a algumas conclusões que nos deram convicção, culminando com a liquidação de algumas instituições também sob investigação da CPI. Folha - Mas o BC não demorou demais para agir? Mauch - Não há como não reconhecer que a CPI tem instrumentos mais rápidos. Ela pode convocar pessoas, fazer acareação, promover aquele contraditório ali, no momento. O nosso processo é mais formal. Temos de fazer cartas, comunicações ao Ministério Público, à Receita. Nós só agimos quando temos documentação. Nós temos convicção do que fizemos. Folha - Não tinha escapatória para as instituições liquidadas? Mauch - Da maneira como estavam montadas as operações, pela forma de fazer desaparecer receitas, criar prejuízos, passar recursos para empresas de fachada. Ninguém quer restringir a criatividade e a atividade do mercado financeiro, mas não podemos permitir que o mercado viva um faroeste daqueles em que o mais rápido mata os outros e continua. Folha - O sigilo bancário não atrapalha a fiscalização? Mauch - Acho que está na hora de se repensar o sigilo. O problema não é ter a informação é o mau uso da informação. Nosso fiscalizador é treinado para trabalhar com isso, deve ser uma pessoa discreta e deve ser o guardião do sigilo. Folha - Se os órgãos do governo pudessem trocar informações sigilosas, a fiscalização fluiria melhor? Mauch - Eu acho que fluiria melhor sim. Não sei qual é o nível de mudança que deve haver, mas está na hora de discutir. Sigilo não deve servir para acobertar crime. Não deve facilitar a vida de quem quer agir à margem da lei. Texto Anterior: Leilão favorece as falcatruas Próximo Texto: Marxismo à lenha Índice |
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