São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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Real surpreendeu até credores

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Os picos de inadimplência após o lançamento do Plano Real podem ser explicados, em parte, pela euforia e inexperiência dos consumidores com a estabilidade.
A opinião é de Celso Luiz Galetti, diretor da Servloj.
O país vinha de vários planos econômicos fracassados. Passados alguns meses, a inflação voltava com força. O consumidor estava acostumado com reajustes salariais. A participação de muitos compromissos no orçamento doméstico "encolhia".
Era o caso do aluguel. Como os reajustes eram semestrais ou anuais e o salário subia praticamente todo mês, quem se apertava era o proprietário do imóvel.
Mas o Plano Real funcionou, a inflação foi caindo e os reajustes salariais passaram a anuais, sem ganho real e muitas vezes sem ao menos repor a inflação passada. Por isso, muitos consumidores foram surpreendidos com os compromissos que assumiram. Daí o aumento da inadimplência, agravada a partir de 95 pelo desemprego na economia formal. Aos poucos, o consumidor vai ficando mais experiente.
As próprias instituições financeiras foram pegas de surpresa e não se preocuparam de imediato com a revisão dos limites de crédito que concediam antes e depois do Real, comenta Galetti, há mais de 15 anos lidando com crédito direto ao consumidor.
Risco no longo prazo Para ele, os índices de inadimplência continuam altos, apesar de estabilizados, porque os prazos dos financiamentos são hoje bem mais longos que no passado. Pode acontecer muita coisa imprevista na vida do consumidor em períodos de 12, 18 e 24 meses. Daí o maior risco de inadimplência.
Dados da Servloj mostram que, nos últimos 12 meses, o prazo médio do financiamento de eletrodomésticos subiu de 4,74 para 7,43 meses; de móveis e decorações, de 3,58 para 6,83; de material de construção, de 3,85 para 6,13; de veículos novos, de 6,5 para 16,86; e de usados, de 5,5 para 16,16 meses.
Prova do maior risco em planos longos, lembra o diretor da Servloj, é que hoje em dia a inadimplência é menor no chamado "ramo mole" (roupas, tecidos, calçados etc.), que trabalha com prazos mais curtos, do que no de eletrodomésticos e móveis e decorações.
Em janeiro de 97, o Índice Servloj de Inadimplência para mais de 180 dias de atraso foi de 5,69% no "ramo mole"; de 6,02% em eletrodomésticos; e de 6,78% em mobiliário e decoração. Material de construção ficou em 5,83%.
No ramo de informática é bem mais baixo, de 3,30%, devido ao perfil mais selecionado da clientela, explica Galetti.
Também é menor em veículos porque o bem fica alienado e o consumidor teme perdê-lo. No caso de uma linha telefônica, corre o risco do desligamento.
(GJC)

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