São Paulo, domingo, 16 de março de 1997 |
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Carioca idealiza 'Brasil abaixo de zero'
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
Qualquer semelhança com o filme "Jamaica abaixo de zero" não é mera coincidência. O carioca Eric Leme Maleson, 29, idealizou o projeto "Brasil abaixo de zero" quando viu a participação do time jamaicano de trenó no gelo nos Jogos de Inverno de Calgary, Canadá, em 1988. Apesar de terem se acidentado no final do trajeto, os quatro jamaicanos fizeram história e tiveram a trajetória contada em filme. "Eles me inspiraram. Quando os vi, a primeira coisa que pensei foi: eu posso fazer isto também", contou Maleson, que mora em Norwell, Massachusetts (leste dos Estados Unidos), à Folha. Agora, o atleta planeja formar uma equipe de bobsled, como é conhecida a competição de trenó no gelo, para representar o Brasil nos Jogos de Inverno de Nagano, no Japão, em fevereiro de 1998. O aprendizado Apesar da grande vontade, foi apenas em 1994 que o brasileiro, que havia seis anos morava nos EUA, se aventurou a ensaiar os primeiros passos na modalidade. "Quando cheguei a Boston, minha família me dava suporte financeiro", explicou o atleta, que largou o curso de engenharia da Universidade Gama Filho, no Rio. "Em 90, montei meu próprio negócio, consegui me legalizar nos EUA e, em 92, quando a companhia estava crescendo, pensei: é agora ou nunca. Mais tranquilo financeiramente, ou aprendia a dirigir o trenó ou esquecia a idéia." Maleson entrou em contato com a Associação Americana de Bobsled. Antes de iniciar as aulas, ele ficou dois anos aprimorando a parte física. "Fiz musculação, corrida, exercícios cardiovasculares, tudo o que você possa imaginar." Matt Roy, diretor da associação, indicou-lhe a "Bobsled Diving School", uma das principais escolas da modalidade nos EUA, que fica em Lake Placid (ao norte de Nova York). A técnica Sua estréia foi "traumática". "Estava com medo. A adrenalina foi a mil. Mas, a partir da segunda vez, tudo ficou mais fácil." O que Maleson mais gosta de fazer é pilotar. "No início, rezava muito. Mas deu certo. Fiz umas 20 viagens e, ao contrário de qualquer principiante, não bati." Para Maleson, o segredo de conduzir um trenó está no kart. "Dirigi muito kart na infância e aprendi que, nas curvas, você tem de seguir uma linha imaginária, não pode fazer movimentos bruscos." O projeto O principal problema para formar a equipe brasileira é a não-existência do esporte no país. "A explicação para não termos atletas de bobsled é simples: não há neve no Brasil", disse Maleson. Sem especialistas em trenó no gelo, ele recorreu às Federações Carioca e Brasileira de Atletismo. "Elas me indicaram atletas de 100 m rasos em boa condição física. Agora temos de adaptá-los ao trenó ", afirmou Maleson, que fará uma seleção dos melhores. Além de procurar companheiros, para participar dos Jogos de Inverno, Maleson terá de atender algumas exigências do Comitê Olímpico Internacional. A principal foi atendida em 1996, com a criação da Associação Brasileira de Bobsled, cuja documentação está sendo analisada pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Para fundar a entidade, amigos e familiares de Maleson tiveram de criar três clubes de trenó no gelo no país, em São Paulo, Minas Gerais e Rio. "Mesmo sem gelo, a gente coloca trilhos para os atletas treinarem o arranque", afirmou Maleson. O patrocínio Maleson quer arrecadar US$ 74 mil para custear o treinamento da equipe brasileira. "Procuro uma empresa audaciosa. Não somos sonhadores. Queremos provar que o Brasil pode ir bem em esportes de inverno." O atleta declarou ter mantido contatos com a Brahma. "Mas ela já patrocinava o Raul Boesel (piloto brasileiro de automobilismo) e não se interessou." Com os recursos, definirá o técnico. Dois norte-americanos e um canadense são os mais cotados. Atualmente, Maleson conta com um técnico norte-americano, Joe Zammikiel, responsável pela manutenção do equipamento. O preço médio de um trenó para quatro pessoas, nos EUA, é de US$ 13,2 mil. Texto Anterior: Modelos e atrizes driblam 'vigilância' para treinar Próximo Texto: Atleta vive da venda de sopa de feijão nos EUA Índice |
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