São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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Românticos de vida curta e trágica

ADRIANO SCHWARTZ
DA REDAÇÃO

Em sua "Breve História da Literatura Brasileira" (Editora Globo), o escritor Érico Veríssimo considera Castro Alves o maior poeta do romantismo brasileiro: é "o primeiro de nossos poetas consciente do social" e o único, entre os autores da época, cuja obra pode "suportar releitura".
Se, nesse aspecto, Castro Alves talvez se diferencie de seus companheiros poetas (há, porém, opiniões controversas, sobretudo a respeito de Gonçalves Dias), em outro a competição é muito mais árdua, e nele, de fato, não há vencedores. Castro Alves, como praticamente todos, teve uma existência curta e trágica (Sousândrade talvez seja a exceção: viveu entre 1833 e 1902, 69 anos).
O curioso é que o fenômeno -principalmente a morte precoce- parece exclusivo dos poetas. Os romancistas românticos -por exemplo, Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay- tiveram vidas mais alongadas. A exceção aqui talvez seja Manuel Antonio de Almeida ("Memórias de um Sargento de Milícias"), que viveu 30 anos. Conheça, a seguir, um pouco da trágica vida de cada um desses poetas.
Castro Alves
Em 1868, aos 21 anos, o autor de "O Navio Negreiro" vem a São Paulo para continuar seus estudos de direito. Em um acidente de caça, fere o pé, que precisa ser -sem nenhuma anestesia- amputado. Com o pulmão já abalado por uma tuberculose, acaba voltando a Salvador, sua cidade natal. O corpo não resiste muito tempo. Castro Alves morre aos 24 anos, tendo publicado em vida apenas um livro: "Espumas Flutuantes".
Álvares de Azevedo
Se Castro Alves é, inegavelmente, o maior representante daquela que se convencionou chamar de terceira geração do romantismo brasileiro, a geração social, o maior nome da segunda geração, uma geração ultra-romântica, noturna, de marcante inspiração byroniana, é Álvares de Azevedo. Este, entretanto, nem chegou a ver qualquer livro seu publicado.
Ao contrário de Castro Alves, Azevedo não concretiza em sua poesia a paixão, idealiza-a (como diz Antonio Candido, "se as moças que despertavam interesse estavam fora de alcance, e as acessíveis ficaram muito aquém do interesse, o texto se carrega de idealização erótica e senso de degradação"). A bem da verdade, nem tem muito tempo para maiores experiências, já que morre aos 20 anos, em 1852, após uma operação para extrair um tumor.
Junqueira Freire
Desta geração ainda vale citar Casemiro de Abreu, outro poeta adolescente -vive entre 1839 e 1860, 21 anos- e Fagundes Varela. Este vive um pouco mais, consegue passar dos 30 anos (1841-1875). Ao que parece, os anos "extras" serviram, basicamente, para ampliar a cota de sofrimento. Aos 18 anos, vem para São Paulo (para estudar... direito). Perde um filho de três meses, a mulher, bebe muito e também é infeliz em um segundo casamento.
Gonçalves Dias
Gonçalves Dias (1823-1864) -o mais relevante dos poetas da primeira geração romântica, a indianista- era filho de um comerciante português e de uma mestiça. Faz seus estudos em Coimbra. Devido a problemas financeiros, precisa voltar, aos 22 anos, para o Maranhão -e não completa o curso de direito em Portugal.
Vai para o Rio. Passa a dar aulas, escrever poemas e peças, casa-se, perde uma filha. Ao voltar para o Brasil de uma viagem à Europa, em 1864, o seu navio, o Ville de Boulogne, naufraga. Todos os passageiros conseguem se salvar, menos Gonçalves Dias, que, adoecido, não tem forças para abandonar a embarcação. Tinha 41 anos.

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