São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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Ocidente se envolve na anarquia da Albânia

EMMA DALY, em Tirana
ANDREW GUMBEL, em Roma

EMMA DALY; ANDREW GUMBEL
DO "THE INDEPENDENT"

Potências ocidentais deixam presidente albanês isolado e negociam solução para a crise com premiê

Potências ocidentais começaram na semana passada a se envolver na situação anárquica prevalecente na Albânia, quando homens armados dispararam contra forças militares americanas, alemãs e italianas que procuravam resgatar ocidentais residentes no país.
Os EUA foram obrigados a suspender a retirada de americanos quando helicópteros dos fuzileiros navais foram alvos de disparos. Homens armados num furgão da polícia também dispararam contra soldados alemães que chegaram de helicóptero num aeroporto militar para buscar cidadãos ocidentais.
Anteontem, quase desapercebido e em meio ao caos crescente, Sali Berisha praticamente deixou de ser o presidente da Albânia.
Com o país inteiro exigindo sua destituição e a autoridade do governo totalmente suplantada por gangues de homens armados, a comunidade internacional optou por deixar Berisha isolado no palácio presidencial e tentar, em vez disso, mediar uma solução para a crise com o premiê recém-nomeado, Bashkim Fino.
Fino e vários ministros, a bordo de um navio de guerra italiano no mar Adriático, mantiveram conversações intensivas com Franz Vranitzky, ex-chanceler australiano e enviado especial da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento da Europa (OCDE), e imploraram à comunidade internacional que intervenha para restaurar a ordem no país.
Vranitzky e outros representantes ocidentais disseram que podem considerar a possibilidade de uma montar uma operação de policiamento para recolher as armas dos rebeldes, mas apenas sob condições muito estritas.
A possibilidade de uma operação militar imediata foi excluída pela Otan, EUA e União Européia, e quaisquer ações subsequentes deverão ser promovidas por países individuais, não por instituições internacionais.
"Primeiro precisamos de um governo que exerça autoridade real. Em segundo lugar, qualquer intervenção precisaria da anuência de todas as partes na Albânia, incluindo os comandantes rebeldes em Vlorë e outros lugares. Mas estamos longe de satisfazer qualquer uma dessas condições", disse o vice-ministro italiano das Relações Exteriores, Piero Fassino.
Os diplomatas afirmaram que vêem Fino, membro do Partido Socialista, que faz oposição acirrada a Berisha, como a última esperança da Albânia. O objetivo da missão de Vranitzky, segundo eles, era oferecer apoio político a Fino e depois patrocinar negociações com os comandantes rebeldes que já dominam muitas cidades.
"Sali Berisha foi jogado completamente de escanteio. No que nos diz respeito, Fino é a última cartada. Se ele não funcionar, não está claro se ainda restará alguma autoridade política no país", disse uma fonte diplomática francesa.

Tradução de Clara Allain

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