São Paulo, domingo, 16 de março de 1997 |
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Reforma agrária
LUIZ HAFERS A questão da reforma agrária encontra-se numa situação no mínimo peculiar: todos estão a favor, e quase todos, insatisfeitos.Essa questão tornou-se uma embalagem para problemas mais amplos e mais antigos, o principal deles uma grave crise social no campo. A falta de uma política agrícola, com suas necessidades de produção e atendimento social, desaguou numa situação na qual uma grande massa de desassistidos, desamparados e desempregados foi cooptada por um movimento bem organizado, que lhes ofereceu um mínimo de esperança e uma solução não tão clara. Esse problema não é agrícola, é social e nacional. O que essa massa de trabalhadores destituídos precisa é de dignidade, e é impossível obtê-la sem trabalho e na pobreza. Terra é apenas uma das soluções. O problema é mais vasto e passa por empregos decentes, educação, saúde e até assentamentos. A sociedade, que se urbanizou rapidamente e para a qual os problemas do campo eram distantes, difusos e desinteressantes, acordou e passa a ter simpatia para com o problema, se bem que não saiba qual a solução, e começa a ter dúvidas quanto à liderança do MST, em sua campanha de violência. É necessário esclarecer e debater o assunto para que a opinião pública, o juiz numa democracia, autorize e legitime o Legislativo e o Executivo nas suas ações. O governo federal tem acelerado sua atuação. Os governos estaduais, ainda tímidos no cumprimento da lei, aguardam os acontecimentos. Os fazendeiros, que não são mais obstáculo, insistem no cumprimento da lei e se sentem objeto de pressão política injustificável, pois só querem continuar a produzir e em paz, o que, aliás, têm feito com sucesso, apesar de enormes dificuldades. Precisamos, pois, de grande discussão e esclarecimento nacional sobre a questão agrícola e agrária, da qual a reforma agrária é um pedaço -ainda que, no momento, agudo e preocupante. A nação precisa se dar conta da importância da agricultura brasileira. É ela instrumento decisivo da segurança alimentar, da segurança social e da segurança cambial. Podemos, devemos e vamos solucionar essa questão. É só nos atermos às soluções, esquecermos revanchismos e dirimirmos inseguranças nas quais prospera o radicalismo. Não é fácil, precisamos de um enorme esforço, mas vamos fazê-lo. Sou otimista. Luiz Marcos Suplicy Hafers, 61, fazendeiro, é presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Texto Anterior: Caminho aberto Próximo Texto: Despotismo e confusão Índice |
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