São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Caminho aberto

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Lá se vão 46 anos. Lembro-me de tudo como se fosse hoje: as palavras de ordem, os discursos inflamados e as passeatas patrióticas que compuseram a gloriosa campanha do "petróleo é nosso". Um entusiasmo que contagiou toda a nação.
Valeu a pena lutar. A Petrobrás foi criada e se impôs como uma empresa de respeito mundial.
Não me arrependo de nada. Poucos acreditavam que o Brasil chegaria a produzir 500 mil barris por dia, pois, na época, sua produção era de 3.000 míseros barris diários. As metas foram todas ultrapassadas. A produção cresceu à base de 14% ao ano e hoje chega perto de 1 milhão de barris. Na virada do século, chegará a 1,5 milhão diários.
Tudo feito à custa de suor e inteligência. O grosso do petróleo brasileiro vem do fundo do mar, depois das sondas penetrarem uma lâmina d'água de mil metros e, no mínimo, outro tanto de solo. São profundidades colossais, o que torna cada perfuração um feito fantástico. Um orgulho da engenharia nacional.
A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que acaba com o monopólio da produção da Petrobrás e que tem como objetivo submeter a exploração do petróleo ao regime de mercado.
Teria sido o fracasso daquela campanha? Não, pois o petróleo continuará nosso. A União permanecerá como sua detentora. Criou-se, apenas, um novo jogo: o jogo da concorrência.
A Petrobrás não tem o que temer. Ela já é a campeã mundial de exploração oceânica profunda. A empresa já está sendo preparada para buscar o petróleo a 2.000 metros de lâmina d'água e mais 1.500 de solo. Será que alguém no mundo dispõe de tamanho know-how? Se houver, melhor.
O jogo da concorrência será salutar para o Brasil. Com ele ganharão os consumidores, os produtores e o governo. A busca de eficiência crescente é uma meta sadia.
É disso que o Brasil estava precisando. Afinal, 50% do nosso déficit na balança comercial é determinado pelas compras de petróleo e derivados.
Que bom será o dia em que o Brasil puder produzir 2 milhões de barris por dia para, com isso, atender o futuro mercado interno e sustentar uma exportação lucrativa. Afinal, o petróleo vai continuar sendo um "ouro verde" por muito tempo. Os resultados do novo jogo, é claro, serão demorados. Trata-se de operações extremamente complexas. Mas era importante dispor de uma lei que a Câmara dos Deputados acaba de aprovar.
Daqui para a frente, o campo está aberto para quem quiser competir. A nova lei prevê a supervisão da exploração petrolífera por um novo órgão: a Agência Nacional de Petróleo.
É aí que mora o perigo. Será essencial que essa agência venha estimular -e não inibir- os novos investimentos. O monopólio da Petrobrás, agora revogado, não pode ser ressuscitado de forma travestida.
Se o jogo é de mercado, ele tem de ser, sobretudo, livre. Uma agência desse tipo precisará de poderes para cuidar do traço estratégico do petróleo, é verdade. Mas terá de ser proibida de intervir na liberdade de investir.
Se tudo isso acontecer, o Brasil terá aberto, finalmente, uma nova era. E a Petrobrás terá pela frente mais uma grande oportunidade para mostrar seu real valor. O novo projeto marca a abertura de um longo e promissor caminho para todo o Brasil. Boa sorte, Petrobrás!

Texto Anterior: Monastério de Santa Clara
Próximo Texto: Reforma agrária
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.