São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Sem-terrinha quer trabalho fora do campo e da lavoura

OSCAR RÖCKER NETTO
ENVIADO ESPECIAL A GUARÁ

Se depender do sonho de infância dos sem-terrinha, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) vai perder futuros associados potenciais.
As crianças que fazem parte da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça esperam ter profissões diferentes daquelas ligada à terra.
Sem-terrinha são as crianças que participam do MST. Seu caminho natural é entrar para as hostes dos acampados ou assentados do movimento.
Hoje, o MST tem 170 mil assentados e 45 mil acampados no Brasil, segundo Edvar Lavrati, 21, coordenador da caminhada.
Na marcha, os sem-terrinha formam um grupo de seis crianças, com idades entre 2 e 13 anos.
Sônia Mara de Matos, 11, quer ser professora. Sua irmã, Rosana Teresinha de Matos, 10, sonha virar enfermeira. Ana Paula Prates, 11, quer ser modelo. Daniel Sabino, 13, deseja seguir a profissão do pai: mecânico.
E a terra? "Dá para ser enfermeira e dar uma ajudinha na plantação", responde Rosana, que estuda na terceira série de uma escola pública em Itapetininga (SP), onde seu pai, João Francisco Matos, é acampado.
"Se minha mãe quiser, posso trabalhar na terra também", tangencia Daniel, cujos pais são separados. A mãe é acampada em Iaras (SP) e não participa da marcha porque ficou cuidando de outro filho, paralítico. A paixão de Daniel é a oficina do pai, em Americana (SP).
O menino viaja sozinho na marcha. Claudiomir Gulartt, 23, também coordenador da marcha, diz que "pessoas do acampamento" foram encarregadas de tomar conta do menino.
As outras duas crianças que compõem o pequeno grupo dos sem-terrinha na marcha são Reginaldo Teixeira, 9, e a caçula Elisete dos Santos, 2.
Sem aulas
Os sem-terrinha vão perder praticamente todo o primeiro bimestre escolar deste ano. "As meninas vão fazer reforço depois", diz João Francisco Matos.
"A escola é fraca mesmo", diz Daniel Sabino, que é aluno de quinta série em Iaras (SP).

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