São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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E O CONSUMIDOR?

A inflação reduziu-se enormemente, mas nem por isso os movimentos de preços deixaram de ser significativos e, em alguns casos, incômodos, para dizer o menos. Um exemplo que causa enorme perplexidade é o dos reajustes de preços de automóveis verificados recentemente.
Desde o Plano Real, os preços dos veículos subiram mais que a inflação média. Os fabricantes de peças e componentes ficaram com seus preços praticamente estáveis. Os impostos sobre a produção de carros não tiveram alta expressiva. Como explicar reajustes tão fortes?
Houve uma única mudança significativa: a edição de uma política que protege as montadoras da concorrência externa e expõe os fabricantes de peças a uma competição aberta, com casos notórios de aquisições ou mesmo de fechamento de indústrias. O resultado previsível está aí: o setor protegido aumenta preços acima da inflação, e os setores expostos ficam frágeis, produtiva e financeiramente.
Para os burocratas de plantão, tudo parece justificar-se em nome dos investimentos prometidos pelas montadoras para os próximos anos. Entretanto, antes de mais nada, é preciso responder a uma questão. Trata-se de novos investimentos, aportes de capital externo? Ou, na prática, são os consumidores que estão financiando os investimentos?
Consta que o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Gesner Oliveira, esteja examinando esse processo de reajustes de preços no setor de automóveis para verificar se ele se justifica.
No entanto, não se trata apenas de saber se há ou não "cartelização" (aumento combinado entre as grandes montadoras). Deve-se colocar em primeiro plano, e o Cade existe também para isso, a questão fundamental de saber se recairão sobre os consumidores (e contribuintes, dada a "guerra fiscal" para atrair montadoras) todos os custos dessa proteção, supostamente temporária, que o governo tem dado generosamente ao setor automobilístico no Brasil.

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