São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Controvérsia marca história da descoberta

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL A FERNANDO DE NORONHA

A história de Fernando de Noronha -que, em 1500, já figurava na carta náutica do espanhol Juan de la Costa e, em 1502, aparecia no mapa do português Alberto Cantino- é mais controvertida do que a polêmica em torno de quem deve hoje administrar o arquipélago.
Na versão mais corrente, o navegador italiano Américo Vespúcio, integrante da segunda expedição exploradora da costa brasileira, comandada por Gonçalo Coelho, descobriu as ilhas em 1503.
No ano seguinte, o arquipélago deve ter sido doado ao comerciante e armador português Fernan de Loronha, ou Fernando de Noronha, um cristão-novo batizado quase adulto que havia enriquecido com especiarias.
Alguns historiadores afirmam que Noronha financiou a expedição de Gonçalo Coelho e que a nau de Américo Vespúcio (o florentino que deu nome à América) chegou às ilhas ao afastar-se da frota.
Outros dizem que Noronha recebeu o arquipélago (que também foi chamado de ilha da Quaresma e de ilha de São João) como donatário da primeira capitania hereditária brasileira.
Esquecido, o arquipélago, que ficava na rota para o Novo Mundo, foi invadido por holandeses, franceses e ingleses, voltando para o domínio português ao ser retomado por Pernambuco em 1737.
Transformado numa colônia penal em meados do século 18, abrigou prisioneiros nos anos 30 e mesmo na década de 40.
Experimentou enorme desmatamento, já que se temia que a vegetação virasse refúgio e as árvores se transformassem em jangadas.
Em 1942, Fernando de Noronha tornou-se Território Federal e, depois disso, os EUA montaram na ilha principal uma estação para rastreamento de foguetes nos alojamentos onde hoje funciona o hotel Esmeralda, na vila do Boldró.
Como presidente da República, Juscelino Kubitschek esteve lá em 1957, quando reconheceu mais uma vez a importância estratégica de sua localização geográfica.
Apesar da temperatura média anual de 25,4°C, JK é visto em fotos de terno escuro de lã e chapéu.
Impacto ambiental
Entre as idas e vindas da história, Fernando de Noronha sofreu com a introdução de animais e plantas. Nos anos 50, a importação do lagarto-teju, que deveria eliminar as ratazanas que vinham no porão dos navios, fez escassear os ovos de tartaruga e de aves marinhas.
A Mata Atlântica insular original -que tem árvores endêmicas, espécies únicas como o mulungu, a burra-leiteira e a gameleira- sofreu com a introdução das trepadeiras jitiranas, que serviram para dar de comer ao gado.
Na década de 80, num sistema de rodízio, foram as Forças Armadas que geriram as ilhas.
Depois disso, no governo de José Sarney, Fernando César Mesquita transformou-se num administrador que mudou a face das ilhas, investindo em infra-estrutura.
Transformada finalmente em distrito estadual pernambucano por força da Constituição de 1988, Fernando de Noronha -que, numa página triste de sua história, já encarcerou como preso político o atual governador de Pernambuco, Miguel Arraes- discute, em clima de liberdade, o seu futuro.
Tadeu Lourenço de Lima, o administrador-geral, tem a obrigação doce e ingrata de cuidar dos destinos desse arquipélago, que, para manter-se um santuário ecológico, limita o número médio de turistas a 420 pessoas/dia.
"No último Carnaval tivemos cerca de 600 pessoas em Fernando de Noronha, mas isso foi só nesses quatro dias; no restante do ano a média não é alcançada", diz ele.
"Só temos uma lotação próxima a 100% em alguns meses", afirma o administrador-geral, que, para controlar as áreas de preservação ambiental do arquipélago, conta com a ajuda dos cerca de 20 funcionários do Ibama.

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