São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Câmara instala comissão para "faxina" jurídica

Deputados querem dar fim a textos repetidos e conflitantes

KENNEDY ALENCAR
EDITOR DO PAINEL

A Câmara dos Deputados prepara faxina jurídica das leis infraconstitucionais. Será criada depois de amanhã comissão especial para consolidar e uniformizar em uma única lei textos jurídicos repetidos e conflitantes.
"Há uma bagunça jurídica que precisa ser arrumada. Isso ajudará a agilizar o trabalho da Justiça", diz o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).
Um levantamento da assessoria legislativa da Câmara, obtido pela Folha, traz exemplos que revelam um balaio de gatos jurídico.
O documento da Câmara ataca o BC (Banco Central) e o CMN (Conselho Monetário Nacional). Diz que há "discrepâncias, confusões e antagonismo" entre normas do BC e do CMN, "com flagrante usurpação da competência que deveria caber ao Congresso".
Segundo o documento da Câmara, alguns mecanismos do sistema financeiro "não estão devidamente regulamentados". Cita como exemplo instituições que estão no centro das investigações da CPI dos Precatórios: bancos múltiplos, corretoras de títulos e de valores mobiliários e empresas de fomento comercial (factoring).
A lei 6.024 de 74, que trata de intervenção e liquidação de instituições financeiras, é destruída pelo estudo da Câmara: "Essa lei já se mostra totalmente ultrapassada".
O estudo da Câmara diz que o decreto-lei 37, de 66, texto básico sobre normas e impostos de importação, precisa ser compatibilizado com as leis de exportação e com os acordos do Mercosul e da OMC (Organização Mundial de Comércio). A Câmara cita dez leis que têm correlação com o decreto.
Segundo Temer, "a confusão e sobreposição jurídica dá vez a advogados picaretas", que recorrem à lei mais conveniente para arrastar um processo.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Sepúlveda Pertence, apóia a iniciativa da Câmara. "Quando concretizada, será de muita utilidade para o país. Evitará até conflitos e desgastes que acontecem hoje", diz.
Temer articula para que a comissão não caia no vazio. Conversou com o vice-presidente Marco Maciel e com o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro. Hoje, leva a proposta a FHC.
A Câmara pediu às Assembléias Legislativas levantamento sobre incentivos fiscais. Com a guerra entre governadores para atrair empresas, a Receita tem perdido poder de combate à sonegação.

Texto Anterior: Resgate marinho
Próximo Texto: Confusões e omissões jurídicas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.