São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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PF investiga depósito de PC de US$ 1,9 mi

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal descobriu que o carioca Luís Sercius, suposto intermediário de traficantes no Brasil, assassinado em dezembro de 95, recebeu US$ 1,9 milhão de uma conta aberta pelo empresário Paulo César Farias, o PC, na Europa.
A PF também descobriu que o empresário alagoano movimentava pelo menos 15 contas bancárias no exterior.
Todas serão investigadas no inquérito que será instaurado nesta semana pelo delegado Daniel Lorenz, da Dcoie (Divisão de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais).
A transferência do dinheiro de PC para a conta de Sercius no Banco Financial Português, em São Paulo, é citada em documentos obtidos pela polícia italiana.
Os documentos são relativos ao rastreamento bancário de contas de mafiosos envolvidos com o tráfico de 5,5 toneladas de cocaína apreendidas em Turim em 1994.
Luís Sercius foi morto com um tiro na cabeça um mês antes de depor em São Paulo, a pedido da Justiça italiana.
A Polícia Federal deverá pedir a exumação do corpo do acusado para definir as circunstâncias de sua morte.
O assassinato foi investigado pela polícia da Suíça. Relatório enviado à Itália afirma que nenhum inquérito policial foi instaurado no Brasil para investigar a morte do suspeito.
Prova
A transferência do dinheiro de PC para a conta de Sercius seria a prova do envolvimento do ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992) diretamente com o tráfico de drogas.
Segundo avaliação da PF, sem indícios desse envolvimento direto, a Suíça não teria quebrado o sigilo bancário das contas abertas por PC em Genebra e Zurique.
As contas foram abertas em nome do Trade Link Bank, banco com sede na Ilhas Cayman, paraíso fiscal da América Central.
Pelas contas desse banco, o empresário alagoano teria movimentado dinheiro retirado do Brasil e recebido depósitos de mafiosos. PC abriu as contas como procurador do Trade Link Bank.
Ingenuidade
Delegados da PF afirmam que é ingenuidade supor que PC estava apenas legalizando dinheiro obtido no Brasil ao fazer várias operações financeiras com intermediários de mafiosos italianos em 1993 -quando estava foragido.
A prisão preventiva de PC foi decretada no dia 30 de junho de 1993 pelo juiz da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, Pedro Paulo Castelo Branco Coelho. O empresário foi preso em novembro daquele ano, na Tailândia.
Requisição de documentos
No inquérito sobre a conexão de PC Farias com a máfia, a PF irá pedir ao mesmo juiz a requisição dos documentos levantados pela polícia italiana.
A PF irá solicitar a quebra do sigilo bancário de PC nos países com os quais o Brasil mantém acordo de cooperação judicial.
Em maio, o Brasil celebra acordo de cooperação com os EUA, que irá acelerar a tramitação de pedidos judiciais do Brasil. Isso poderá facilitar a investigação das contas de PC em Miami e Nova York.
Nesta semana, a PF deve instaurar outros quatro inquéritos para apurar casos de sonegação fiscal praticados por empresas ligadas ao esquema PC -rede de tráfico de influência comandada pelo empresário no governo Collor.
Desde o início das denúncias contra PC, em 92, que culminaram com a renúncia do ex-presidente Collor, a Polícia Federal já abriu 140 inquéritos sobre o esquema do empresário alagoano, assassinado em 96.

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