São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Política de Ieltsin dá munição a radicais'

Rússia pode aprender com Brasil, diz Gorbatchov

DA SUCURSAL DO RIO

Em seu terceiro dia no Rio, Mikhail Gorbatchov falou mais sobre a situação política de seu país do que sobre preservação ambiental.
O ex-presidente da ex-URSS e presidente da ONG (organização não-governamental) Green Cross International (Cruz Verde Internacional) participa da reunião ambientalista Rio+5.
Em entrevista, Gorbatchov disse que a situação social da Rússia está muito difícil e que, apesar das medidas oficiais "para apagar o incêndio", está sendo difícil "segurar" os movimentos reivindicatórios.
Gorbatchov afirmou que o governo russo tem conseguido "algumas vitórias" no combate à inflação, com a estabilização da economia, mas apenas no plano macroeconômico.
"Mas isso é artificial. Quem está pagando são as pessoas, que não podem ir ao mercado comprar o que precisam", disse.
Ele afirmou que, se a política econômica do presidente da Rússia, Boris Ieltsin, for mantida, isso dará munição "aos radicais". Gorbatchov disse ser contra uma volta ao passado.
Por isso, segundo ele, é importante o desenvolvimento "da terceira força" partidária no país. Ele se referia ao Partido Popular Republicano, comandado pelo general da reserva Alexander Lebed, que foi o terceiro candidato mais votado nas eleições presidenciais de 1996.
Gorbatchov disse que a experiência do Brasil na resolução de seus problemas será importante para os russos. Segundo ele, a Rússia e o Brasil têm algumas realidades semelhantes.
São dois países "com populações numericamente parecidas" e que sofrem uma influência muito grande do Estado na sociedade. "Existem problemas comuns de como saber usar a democracia, como modernizar e transformar a sociedade dentro de uma estrutura democrática."
"Nossos países são ricos, mas não sabemos ainda como utilizar nossas riquezas", afirmou. Para ele, os dois países precisam fazer uma síntese de seus problemas do passado, para aprender e construir uma nova sociedade.
Para ele, um nova utopia mundial tem de ser construída sem as divisões do passado, entre países capitalistas e comunistas. "Não precisamos ficar rezando por nenhuma teoria ou ideologia."
O ex-presidente da ex-URSS disse que não dá apoio à globalização econômica, mas que se trata de um processo irreversível.
Para ele, a globalização não pode implicar imposição de valores de alguns países sobre a cultura e a religião de outros. Gorbatchov disse que o mundo já aprendeu os resultados da tentativa de implantação da utopia comunista.

Texto Anterior: O que diz a Carta da Terra
Próximo Texto: Organismo pede projeto contra gás
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.