São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997 |
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Braz e Dionisio discutem o teatro
DANIELA ROCHA
Os dois têm planos de fazer um musical juntos. "Falta aprofundar esse gênero no Brasil", diz Braz. O tema pode ser futebol. Leia a seguir trechos da conversa. * Marco Antônio Braz - Vamos começar falando das diferenças? Dionisio Neto - Você acha que tem a ver com a idade? Braz - Acho que tem. Apesar de eu ter 30 anos, sou um velho e dei graças a Deus de sair da adolescência, uma fase doentia. Dionisio - Acho que eu saí da adolescência e só agora posso escrever sobre ela. Acho os adolescentes ricos, eles têm o que dizer. Braz - Para mim, é como Nelson Rodrigues dizia: "Envelheçam". Fiquei imbuído de Nelson Rodrigues. Sem isso não poderia ter uma relação autêntica com a obra. Dionisio - Isso é muito claro no que você faz. Você não monta simplesmente Nelson Rodrigues. Sua obra tem uma leitura do Braz. Folha - Dá para traçar o paralelo neste momento: Nelson Rodrigues é para Braz o que Gerald Thomas é para Dionisio? Dionisio - Sim. Braz - Para mim, Nelson é genial. Não o encaro apenas como dramaturgo. Ele foi um cara que pensou esteticamente a realidade e conseguiu traduzir muitas verdades. Dionisio - Eu com certeza compro as idéias do Gerald. A primeira peça que vi na vida foi "Electra com Creta". A partir daí, as obras dele me influenciaram muito. Braz - Mas você sabe inglês e tem Internet... Dionisio - Acho que isso é o que importa e nunca vou fugir disso... Braz - Eu sei, é que sou justamente o contrário. Dionisio - Sou bisneto de índios, isso é que é mais louco. Folha - Braz é mais literário, enquanto Dionisio segue a trilha da velocidade de informação? Braz - Eu lido com a informação também... Dionisio - E eu lido com a parte literária também. Leio muito, faço poemas e estou escrevendo um romance. Só que não me interessa montar a literatura que já existe. Interesso-me em dialogar com ela. Folha - Já o trabalho do Braz não segue um caminho pop... Braz - Acho que sigo. Valderez de Barros vive dizendo que eu sou pós-moderno. Dionisio - Tive uma educação pelo Antunes para ler, por exemplo, o alfabeto do Kazuo Ono. Você precisa aprender os códigos para ler uma obra de arte. Braz - Esse é um ponto em comum. Fazemos parte de uma geração sem preconceitos a posturas estéticas. Se o trabalho é verdadeiro, a gente aplaude. Dionisio - Nós dois temos duas obras, eu, "Perpétua" e "Opus", e você, "Viúva, porém Honesta" e "Perdoa-me por me Traíres". As pessoas começam a comparar as obras e dizem que uma é boa, outra não. Que artista no mundo é 100%? Não existe. Texto Anterior: Perueiros vão ganhar credencial provisória Próximo Texto: 'Romeu e Julieta' revive em feira Índice |
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