São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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Franco e Eris expõem divergências

LUCIA MARTINS
DA ENVIADA ESPECIAL A BARCELONA

O Brasil tem até abril para que haja mudança na balança comercial. Se ela não ocorrer, será necessária alguma providência.
A afirmação foi feita pelo ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris, durante um café da manhã com banqueiros, ao lado do diretor da área externa do BC, Gustavo Franco. "Há uma deterioração da balança comercial. Houve um crescimento do coeficiente de importações maior do que o esperado", disse.
Franco, que discursou após o ex-presidente do banco, afirmou que não há necessidade de nenhuma "medida drástica" e que nenhuma mudança no câmbio será feita agora. "Temos instrumentos para lidar com essa situação", disse.
As declarações de Eris provocaram agitação da platéia de banqueiros. "Parece que há uma divergência entre os senhores", disse um deles.
Eris defendeu que o desaquecimento da economia não é solução para conter o déficit. Ele sugeriu que o governo eliminasse a banda cambial. "O governo poderia deixar o câmbio flutuar para ver o que acontece."
"Se fizermos isso, o câmbio cai", disse Gustavo Franco.
Segundo o ex-presidente do BC, a crise pode não ser "tão iminente", mas, por outro lado, esperar até 1999 pode ser tarde demais.
"Essa é uma visão alarmista. O que você tem é um problema de transição", disse Franco.
O governo defendeu, em Barcelona, que a saída para o déficit é aumentar exportações. "Mas, como essa solução é de longo prazo, vamos continuar financiando o déficit", disse o presidente do BC, Gustavo Loyola.
O debate sobre o futuro da economia dividiu os banqueiros. "O Brasil tem grandes reservas. Acho que não há grandes riscos", disse John Rae, diretor do banco alemão BHF.
Já par Francisco Roche, diretor do banco espanhol Francisco Roche, a visão do ex-presidente do BC é "realista". "Acho que a situação é muito preocupante e o governo tem que tomar alguma providência", afirmou.
No final da reunião, alguns banqueiros brincaram e disseram que pretendem criar um serviço do tipo "você decide".
"Aqueles que são favoráveis ao Eris ligam para um número e os que concordam com o Franco, para outro", disse o economista Affonso Celso Pastore.

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