São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOCIAL DISTORTION é punk novo

LÚCIO RIBEIRO
DA REDAÇÃO

Sabe-se lá o que faz uma gravadora brasileira lançar com quase oito meses de atraso o disco de uma banda sem o menor apelo comercial no país. Seja qual for o motivo, a Sony, bafejada por uma bênção qualquer, solta no Brasil o CD "White Light, White Heat, White Trash", da banda californiana Social Distortion, uma reunião de 11 grandes canções para quem é chegado em rock'n'roll com levada punk.
"White Trash" imprime aos veteranos do Social Distortion tal garra e frescor punk que o álbum parece ter saído de uma garagem, produzido por uma banda de garotos com 15 anos de idade. E não de estrada.
A banda não faz uso de firulas para emprestar peso ao seu som. Em vez de vocal berrado ou guitarras distorcidas, tem uma maneira natural de tocar pesado.
Pode soar engraçado, mas nesse bem-vindo "White Light, White Heat, White Trash" o perturbado vocalista/guitarrista/compositor Mike Ness cometeu um álbum romântico.
Se no disco "White Light, White Heat" (67), o Velvet Underground mergulhava de cabeça nos anos 60 e oferecia contos sobre sexo, heroína e morte, em "White Trash" o Social Distortion dá um passeio pelas águas turbulentas da dor pessoal, dos erros, do amor acabado e sem volta.
A palavra "pain" (dor) permeia o álbum. Logo na primeira música, "Dear Lover", comovente balada punk, Mike Ness se desespera no refrão: "Minha adorada, eu não aguento mais/ dê-me pelo menos um último beijo doloroso". Amar também é um gesto punk.
O CD traz um hino. Mike Ness assume seus erros na já clássica "I Was Wrong", onde novamente a dor envolta pela barulheira levou a banda a beliscar um lugarzinho na parada da "Bilboard".
Não custa ainda avisar que esse álbum traz uma cover de "Under My Thumb" como uma não-creditada faixa extra. No original dos Rolling Stones, Mick Jagger canta como ele domina uma garota, que o considera um irresistível sedutor. Com a mesma letra, mas na voz de Mike Ness, a impressão é a de que acontece exatamente o contrário. Esse lançamento comove. Surpreenda-nos novamente, Sony.

Disco: White Light, White Heat, White Trash
Banda: Social Distortion
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média

Texto Anterior: OFFSPRING é punk velho
Próximo Texto: Cyndi Lauper; The Presidents of USA; Teddy Morgan; Sue Foley; Heartbreakers; Virgulóides?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.