São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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ANESTESIA NA TRANSIÇÃO

As expectativas da indústria nacional de máquinas para 1997 compõem um quadro no qual podem ser observados os nós que trabalhadores, empresários e governo devem desatar nessa fase de transição da economia.
O valor da aquisição de máquinas deve crescer 9% em 1997, estimam os empresários. O gasto na importação desses bens aumentaria 42,4%.
Verifica-se um esforço no sentido de enfrentar o imperativo da modernização do parque produtivo, o que é animador. Tal iniciativa também ilustra alguns problemas do país.
A política monetária ajuda a fazer com que os empresários comprem mais no exterior: os juros são menores, os prazos maiores e o câmbio é favorável. De adverso, só o risco de um reajuste cambial.
Mas a realidade inevitável da transição para uma economia competitiva não deve eximir ninguém da procura de soluções amortecedoras do impacto da modernização -desindustrialização e desemprego.
O espaço de manobra é curto, pois a própria renovação tecnológica pulveriza postos de trabalho. Assim, não se pode encarar com tranquilidade as estatísticas de emprego.
No auge do protecionismo, em 1980, eram mais de 341 mil os empregados no setor de máquinas no país. Em 1994, o número caiu para cerca de 217 mil. A expectativa para 1997 é que o número de vagas seja reduzido a 160 mil.
Esse e outros problemas se estendem a mais setores produtivos nessa fase de transição. A indústria migra atrás de impostos baixos, oferecidos na guerra fiscal entre Estados, e de mão-de-obra barata. Quer dizer: a situação fiscal e o valor do salário são vítimas da luta pela obtenção de vantagens comparativas.
É positivo que governo e empresários se movimentem para conseguir que a economia brasileira garanta seu lugar no mercado mundial, uma tarefa que tem consequências dolorosas. Mas não se percebem ainda muitos esforços para produzir um anestésico para a transição.

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