São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
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Ben Jor quer teclado em evento percussivo

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Jorge Ben Jor vai se apresentar sexta-feira no Percpan (Panorama Percussivo Mundial), o festival internacional que começa amanhã em Salvador, mas ainda não ensaiou um único número.
Ele vai levar "meia banda" -a seção percussiva de seu conjunto- e tentará convencer o organizador, o percussionista Naná Vasconcelos, a deixá-lo ligar um tecladinho em sua apresentação.
"O Naná me convidou dizendo que a minha música tem uma parte percussiva muito forte. Mas eu queria levar um teclado para fazer a linha melódica", disse Ben Jor por telefone ontem à Folha.
Ben Jor divide o palco com o Grupo de Jongo da Serrinha (RJ), que ele conhece mas com quem nunca se apresentou. Ensaiarão juntos apenas em Salvador.
Ele, ao menos, já sabe o que vai tocar: "Moça Bonita", "Jorge de Capadócia", "Fio Maravilha", "Santa Clara Clareou" e possivelmente uma inédita, chamada "Don-Don" -composição inspirada numa menina que ele queria tirar para dançar no Circo Voador, do Rio.
No sábado, Ben Jor deve voltar ao palco, desta vez com as outras atrações do evento, numa jam session internacional. "O couro vai comer nessa jam-session", acredita.
Salvador é uma etapa quase banal na agenda do músico, que se encontra no meio da gravação de um novo disco, pela Sony Music.
Ele não está tendo muito trabalho com isso. O disco será todo de duetos e a seleção de repertório está sendo feita pelos artistas que vão dividar as faixas com Ben Jor.
Entram na bolacha expoentes do pop-rock e do funk que já interpretaram Ben Jor na vida, como Skank, Fernanda Abreu, Funk'n Lata e Cidade Negra. "Eu entro com a voz e, se der, com uma guitarrinha", diz Ben Jor. A produção é de João Marcelo Bôscoli -a idéia, idem.
Apenas o Funk'n Lata já gravou -a faixa é "Domênica", Ben Jor não lembra mais de que disco é (é do "Força Bruta"). O Cidade Negra deve levar "O Homem da Gravata Florida", do antológico "A Tábua de Esmeralda".
Outro compromisso que vem tomando o tempo do compositor é a série de shows que faz pelo Brasil, inaugurando lojas da locadora de homevídeo Blockbuster. São 15, ele já fez nove.
"É legal, fiz um show em Santana (zona norte de São Paulo) para 50 mil pessoas", diz. "Vai um público que não tem dinheiro ou acha longe ir aos shows do Olympia ou do Palace."
Embora reconheça o interesse do Percpan, Ben Jor não está muito seduzido pela idéia de desenvolver um trabalho fortemente percussivo. Rechaça, por exemplo, a idéia de gravar um disco acústico -como fizeram Gilberto Gil e Titãs.
"'Jorge de Capadócia' ficou melhor na versão da Fernandinha Abreu", diz ele. "Se eu tivesse aqueles teclados em 1975, seria muito diferente", exemplifica.
Embora os elementos percussivos estejam muito mais presentes nos discos dos anos 70, Ben Jor não faz nenhuma questão de reavivar essa era: "Eu não quero que reeditem meus discos antigos, como no caso da caixa do Caetano Veloso. Estou interessado no meu trabalho novo".
Ben Jor reclama das inúmeras compilações que são lançadas de sua obra, especialmente uma feita pela Polygram, também responsável pela reedição de seus discos originais em CD -que, aliás, já estão esgotados.
Mas ele parece estar satisfeito com a fase "W/Brasil", definitivamente menos criativa que os anos 70, mas que foi responsável pelo seu reencontro com o sucesso -e pela conquista de um público novo para ele, adolescente.
Quer agora aproveitar a vinda de artistas estrangeiros ao Percpan para ouvir coisas novas -mas, preferencialmente, eletrificadas.
"Participei de um festival de música na Argélia e vi que artistas como Salif Keita, Toure Kunda e outros estavam todos ligados na eletrônica", diz. "É o que eu gosto."

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