São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
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'Bonnie & Clyde', 30, recebe homenagem

EDIANA BALLERONI
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MIAMI

"Eles são jovens, eles se amam, eles matam pessoas" dizia o anúncio em inglês do hoje clássico "Bonnie & Clyde", de Arthur Penn, que recebe homenagens ao completar 30 anos.
A produção colocou sangue na tela e usou a câmera intimista da nouvelle vague para mostrar dois jovens que gostavam de aparecer nos jornais e escrever poesia, mas às vezes matavam alguém.
O filme conta a história real de Bonnie Parker (Faye Dunaway) e Clyde Barrow (Warren Beatty), jovens texanos que aterrorizaram o Meio-Oeste dos EUA roubando bancos nos anos 30, até serem mortos em uma emboscada.
Eles roubavam bancos, mas não os clientes; Bonnie escrevia poesias e Clyde amava sua parceira e queria casar com ela, mas não conseguia fazê-la feliz na cama.
"Bonnie & Clyde" foi tachado de exaltador da violência, anticapitalista, antiestablishment. O sistema financeiro, conta a lenda, pressionou contra a sua distribuição.
Lançado em 1967, o filme recebeu uma homenagem especial no último Festival de Miami. Na ocasião, o roteirista David Newman deu entrevista à Folha. Leia trechos a seguir:
*
Folha - "Bonnie & Clyde" foi visto como um filme antiestablisment. Sua concepção teve a ver com o ideário da contracultura?
David Newman - Acreditávamos que muitos dos valores do submundo da década de 20 haviam sido assimilados pelo underground da década de 60. Bonnie e Clyde poderiam ter feito parte da gangue de Andy Warhol ou vice-versa. Eles dividiam o desejo comum de virarem celebridades. Eram pessoas dos anos 60 vivendo nos anos 30.
Folha - O lançamento foi cercado de muita polêmica.
Newman - No começo defendíamos a violência e sua necessidade no filme, depois nos cansamos e paramos. Aí vieram as teorias: era uma metáfora sobre a guerra do Vietnã, contra a brutalidade na América, pelo desarmamento etc. Era um filme sobre gângsteres.
Folha - Quando o filme foi lançado, a crítica européia o recebeu melhor que a americana.
Newman - A "Newsweek" publicou uma crítica negativa nos EUA. Uma semana depois -eu nunca tinha visto isso- o mesmo crítico se retratou. Disse que seus amigos insistiram tanto que ele estava errado, que resolveu ver o filme novamente. E achou genial.
"The New Yorker" publicou um ensaio de 40 páginas sobre o filme -positivo. Foi fantástico.
Na Europa, a crítica recebeu muito bem. Foi sucesso em todos os lugares. As mulheres passaram a usar a "moda Bonnie". A música de banjo começou a ser tocada. "Bonnie & Clyde" virou mania.

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