São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
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Dissidente norte-coreano vai às Filipinas após 34 dias de crise

Kwang Jang-yop estava em Pequim e quer asilo em Seul

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O mais importante dirigente norte-coreano a fugir do país, Hwang Jang-yop, chegou ontem às Filipinas, depois de passar 34 dias refugiado no consulado sul-coreano em Pequim.
A operação para levar Hwang às Filipinas se cercou de mistérios. China e Coréia do Sul confirmaram a viagem, mas se recusaram a revelar seu destino. O governo filipino também não se pronunciou.
Na manhã de ontem, Hwang foi levado num avião militar para a cidade chinesa de Xiamen (sudeste). Acompanhados por guarda-costas sul-coreanos, embarcou num Boeing-737 fretado da Air China.
Existe o medo de que a Coréia do Norte, um dos últimos regimes de comunismo ortodoxo do planeta, tente promover um atentado contra o desertor, que era um dos ideólogos norte-coreanos.
No início da crise, a Coréia do Norte dizia que Hwang tinha sido "sequestrado por agentes capitalistas sul-coreanos".
Hwang chegou de táxi ao consulado sul-coreano no dia 12 de fevereiro. Fazia escala em Pequim na viagem que o trazia do Japão e o levava de volta a Pyongyang (capital norte-coreana).
Hwang pediu asilo político à Coréia do Sul. A China se viu no meio de uma crise diplomática, obrigada a optar entre o governo norte-coreano, aliado antigo dos tempos da Guerra Fria, e o sul-coreano, um importante parceiro econômico para as reformas chinesas pró-capitalismo.
A China sabia que a ida de Hwang para a Coréia do Sul era inevitável, mas buscava retardar as negociações para dar tempo ao governo norte-coreano de absorver o impacto do golpe representado pela deserção de Hwang.
A China teria exigido a viagem por um terceiro país para não parecer concordar com todos os pedidos sul-coreanos. Pequim também teria exigido que Hwang fique "bastante tempo" nas Filipinas, para permitir que a notícia de sua fuga "esfrie".
Hwang, que fugiu com um assessor que o acompanhou às Filipinas, deixou o consulado na noite de segunda-feira. Dormiu num aeroporto militar antes de embarcar.
O forte esquema de segurança montado ao redor do consulado sul-coreano em Pequim foi mantido mesmo depois da saída de Hwang. Diplomatas da Coréia do Sul temem represálias do Norte.

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