São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
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Como fazer dinheiro

GILBERTO DIMENSTEIN

Uma empresa multinacional assinou esta semana contrato com empresários que têm algo em comum: aprenderam a ganhar dinheiro com o PT (Partido dos Trabalhadores). Gente que vivia na pobreza ou estava desempregada passou a ser fornecedor de produtos industrializados ao supermercado Carrefour.
Antes mesmo desse contrato, já estavam ganhando dinheiro que nunca viram na vida, revelando os efeitos do treinamento profissional para aumentar renda e gerar emprego -uma convicção que está no pico da agenda americana.
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Patrocinado pelo governo do Distrito Federal, o projeto tem menos de dois anos, simples, barato e com alto retorno.
Através de um empréstimo bancário, 127 famílias que vivem no campo, até então sem a menor chance de crédito, montaram 64 minifábricas -a renda mensal dessas família era, em média, de R$ 50 por cabeça.
Eles industrializaram doces, biscoitos, conservas, ovos e frango caipira, com embalagens sofisticadas; para ganhar escala, o governo compra as embalagens e vende (com lucro) aos produtores.
A renda per capita pulou, agora, para R$ 200.
Os novos empresários aprenderam a manter padrão de qualidade e recebem periodicamente equipes de inspeção mais preocupadas em ensinar do que multar. Aprendem, por exemplo, todos os procedimentos de higiene.
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Com preços baixos e boa qualidade, seduziram o mercado de Brasília. A renda familiar dos donos das minifábricas quadruplicou e eles contrataram mais 125 famílias. Acabaram atraindo a rede de supermercado Carrefour, de olho em bons negócios.
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Uma curiosidade antropológica. Os homens rejeitaram a idéia de trabalhar nas fábricas, fazer doces era "coisa de mulher", diziam.
Elas ganharam mais dinheiro do que seus maridos, a auto-estima subiu, reagiram às ordens e maus-tratos. Resultado: brigas conjugais, ensinando aos homens seu lugar.
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Peço licença ao leitor para especular e provocar. Esse tipo de projeto não pode ser uma das alternativas à reforma agrária?
Segundo cálculo do senador José Serra, cada assentamento sai por R$ 40 mil -o equivalente a 20 fábricas montadas em Brasília, capaz de ajudar cem famílias.
Intelectuais de esquerda começam a produzir estudos, ainda discretos, sustentado que a reforma agrária é um investimento alto com retorno social baixo.
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PS - Comentário bem-humorado do deputado Paulo Delgado a José Genoíno: "Se o PFL apoiar a reforma agrária estamos perdidos". Genoíno reagiu com espanto e Delgado explicou: "O PT vai perder sua última bandeira".

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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