São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
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Depoimento de dono do Vetor faz crescer dúvida sobre bancos

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O rastreamento das operações com títulos de Pernambuco e o depoimento de Ronaldo Ganon, do Banco Vetor, ampliaram as dúvidas dos senadores da CPI dos Precatórios contra os grandes bancos, em especial o Bradesco.
Em depoimento e acareação que entraram pela madrugada de ontem, Ganon disse que ofereceu os títulos de Pernambuco aos grandes bancos e que o Bradesco não comprou porque não quis.
"Nossa mesa ficou entrando em contato com todo o mercado, e todo o mercado sabia que tínhamos papel para vender. O Bradesco, se tivesse interesse, podia ter entrado diretamente lá no Vetor", disse Ronaldo Ganon.
Economia
Levantamento dos técnicos da CPI revelou anteontem que o Bradesco poderia ter economizado R$ 49,544 milhões se tivesse adquirido os lotes de títulos diretamente do governo de Pernambuco.
Segundo levantamento da CPI, o Bradesco comprou papéis em dois dias diferentes, após terem seguido um caminho idêntico por sete instituições financeiras.
São elas: Vetor, Valor, Olímpia, IBF Factoring, Split, Astra e Paper. Para fazer o passa e repassa dos papéis, essas intermediárias lucraram R$ 27,580 milhões em um dia e R$ 21,964 milhões em outro.
Sobrepreço
O que mais impressionou os senadores da CPI foi outra parte do depoimento de Ganon, em que ele afirma que é prática corriqueira os grandes bancos comprarem títulos por meio de distribuidoras sem a menor expressão.
"Nossa mesa já ofereceu títulos várias vezes para determinadas instituições financeiras, que foram recusados sob o argumento de que não têm interesse, que a taxa está muito baixa", afirma Ganon.
"Desse tamanhinho"
Ele segue: "Uma, duas, três horas depois, entra uma distribuidora desse tamanhinho fazendo uma oferta. Não queria oferecer a essa instituição, mas ela fica sabendo (...) e eu vendo. Três meses depois, fica-se sabendo que quem comprou aquele título foi tal banco".
O depoimento do banqueiro Ronaldo Ganon reforçou suspeitas dos senadores, que há duas semanas já haviam aprovado a convocação de presidentes de grandes bancos para prestar depoimentos à CPI dos Precatórios.
"Por trás disso tudo deve haver gente com muito dinheiro para comprar o título, geralmente dinheiro que não é deles mesmos, e sim de fundos de pensão, de investimento, acionistas ou correntistas", disse o relator da CPI dos Precatórios, senador Roberto Requião (PMDB-PR).
Isto é: a CPI que investiga os títulos públicos tem uma suspeita, e nenhuma prova, de que os grandes bancos eram participantes do esquema dos títulos públicos.
A hipótese se baseia no raciocínio de que, sem a garantia de que haveria um comprador final disposto a comprar os títulos e deixá-los na carteira, o esquema não poderia funcionar.

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