São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
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Fundação belga dá prêmio ao MST e assume intenção política

BETINA BERNARDES
ENVIADA ESPECIAL A BRUXELAS

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recebeu ontem em Bruxelas (Bélgica) o prêmio Rei Balduíno. Michel Didisheim, presidente da Fundação Rei Balduíno, disse que a escolha do MST "é quase política" e pretende ajudar a reforçar e "tornar melhor" a democracia brasileira.
A premiação inclui doação de US$ 122 mil e foi entregue a representantes do MST numa cerimônia no Palácio de Bruxelas que contou com a presença do rei Albert 2º, da rainha Paola, do primeiro-ministro Jean-Luc Deahene e de outros 400 convidados.
Nenhum representante da Embaixada do Brasil na Bélgica compareceu ao evento. Um diplomata, que pediu para não ser identificado, afirmou que a decisão de não comparecer foi política e marca a insatisfação do governo brasileiro com o prêmio ao MST.
Ontem, o jornal belga "Le Soir" dedicou novamente uma página inteira ao assunto. O jornal aponta retaliação no "cancelamento" por parte do governo brasileiro de uma missão com representantes do governo e do empresariado da Bélgica que visitaria o Brasil.
"A fundação é independente do governo belga e da Casa Real, mas o governo brasileiro parece não ter assimilado isso direito", afirmou Michel Didisheim.
A Fundação Rei Balduíno atribui o prêmio internacional para o desenvolvimento a cada dois anos.
O primeiro a ser laureado foi o educador brasileiro Paulo Freire, em 1980. Este ano, o prêmio foi dado ao MST "pelo papel essencial na atuação para pôr em prática a reforma agrária no Brasil, permitindo, por intermédio do retorno à terra, dar aos menos favorecidos um novo projeto de vida".
"Nossa posição é de não interferir nos assuntos internos de outros países, mas cada vez mais a comunidade internacional intervém", afirmou o presidente da fundação.
"Temos que fazer a diferença entre legalidade e legitimidade. Na África do Sul, o apartheid era legal, mas Mandela era a legitimidade. No Brasil, há a legalidade de um lado, mas o MST também não representa a legitimidade?", questionou Didisheim.
O bispo de Chapecó (SC), dom José Gomes, participou da entrevista coletiva dada antes da cerimônia e foi duro com FHC.
"O governo reage com insensatez e frieza aos problemas dos sem-terra. Nos acampamentos não há comida nem água. Para o governo, pobre é melhor que morra mesmo", afirmou.
Egidio Brunetto, diretor nacional do MST, disse "reconhecer" que o governo FHC foi "o que mais fez assentamentos, mas eles estão abaixo da metade das metas que FHC havia estipulado".
O discurso de agradecimento foi feito por Ivanete Yonin, diretora do MST no Rio Grande do Sul. Ela recebeu o prêmio das mãos do presidente da fundação e foi cumprimentada pelo rei Albert 2º.

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