São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
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"Deficiente" pode ganhar o prêmio

MARIANE MORISAWA
DA REDAÇÃO

Quem ganhará o Oscar de melhor ator, na cerimônia da próxima segunda-feira? Se depender do histórico dos últimos anos, deve haver uma grande disputa entre quatro concorrentes: Billy Bob Thornton, Ralph Fiennes, Geoffrey Rush e Woody Harrelson. Por quê? Simplesmente porque todos interpretam personagens com problemas físicos ou mentais.
Nem sempre foi assim. Somente a partir de 1988, quando Dustin Hoffman ganhou o Oscar representando um autista em "Rain Man", os membros da academia começaram a se comover com papéis desse tipo.
Antes de Hoffman, houve apenas algumas exceções, como a vitória de Jon Voight, que interpretava um paraplégico em "Amargo Regresso", de 1978.
A nova tendência de a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas premiar atores que fazem esses personagens pode ser conferida nos anos que se seguiram à vitória de Hoffman.
Em 1989, Tom Cruise concorreu, pela primeira vez, ao Oscar, por sua participação em "Nascido em 4 de Julho", em que ele vivia Ron Kovic, personagem real que volta da Guerra do Vietnã paraplégico.
Mas não foi a vez do astro. A estatueta acabou nas mãos de Daniel Day-Lewis, por sua atuação em "Meu Pé Esquerdo" como Christy Brown, que só conseguia movimentar os dedos dos pés.
No ano seguinte, Robert de Niro, que vivia um paciente com a chamada "doença do sono" em "Tempo de Despertar", foi vencido por Jeremy Irons, com "O Reverso da Fortuna".
Em 1991, foi a vez de Robin Williams -um maluco em "O Pescador de Ilusões"- perder o Oscar. O britânico Anthony Hopkins levou o troféu para casa com o psicopata canibal de "O Silêncio dos Inocentes".
A academia voltou a mostrar sua preferência em 1992, quando Al Pacino finalmente recebeu um prêmio, depois de ser indicado cinco vezes. Sua atuação como um militar cego em "Perfume de Mulher" conquistou os eleitores do Oscar. Era o único concorrente com algum tipo de deficiência.
E, em 1993, apesar dos esforços de Liam Neeson em "A Lista de Schindler", Anthony Hopkins em "Os Vestígios do Dia", Laurence Fishburne em "Tina" e Daniel Day-Lewis em "Em Nome do Pai", Tom Hanks arrebatou a estatueta como o advogado que sofre de Aids em "Filadélfia".
Hanks repetiu a dose no ano seguinte, como Forrest Gump, um homem com QI baixíssimo, no filme de Robert Zemeckis. Apenas o inglês Nigel Hawthorne, com "As Loucuras do Rei George", concorria com ele na categoria debilitado.
No ano passado, nenhum dos indicados possuía alguma distinção física ou mental. A vitória foi de Nicolas Cage, como o alcoólatra de "Despedida em Las Vegas".
No Oscar 97, as chances de um personagem com problemas dessa natureza ser premiado são grandes. Thornton interpreta um ex-interno de hospital psiquiátrico em "Sling Blade", Rush é o esquizofrênico pianista David Helfgott em "Shine", Harrelson passa boa parte de "O Povo contra Larry Flynt" se movimentando em uma cadeira de rodas, e Fiennes faz um homem imobilizado por queimaduras em "O Paciente Inglês".
A não ser que os membros da academia tenham um surto e resolvam premiar Tom Cruise -o único personagem sem deficiências físicas ou mentais- por sua atuação em "Jerry Maguire", o Oscar deve ser, mais uma vez, de um desses personagens que tanto emocionam os eleitores -também atores, nessa categoria- da academia.

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