São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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PC fez saque às vésperas do impeachment

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O rastreamento das contas do empresário Paulo César Farias feito pela polícia italiana registra um saque de US$ 3 milhões de uma conta em banco em Montevidéu, Uruguai, em setembro de 1992, às vésperas do afastamento do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
O dinheiro foi retirado por um dos principais procuradores de PC, o advogado Luiz Felipe Ricca, e transportado ao Brasil em um dos jatos do empresário alagoano.
O destino desse dinheiro é um dos mistérios que a Polícia Federal pretende desvendar com a instauração de inquérito esta semana para apurar a conexão financeira de PC com a máfia da Itália.
A PF suspeita que o dinheiro sacado no Uruguai tenha sido usado para tentar evitar o afastamento do ex-presidente. Ele foi afastado do cargo em 29 de setembro de 92, quando a Câmara dos Deputados aprovou o início do processo de impeachment. Renunciou em 30 de dezembro do mesmo ano, antes de sua conclusão.
Ricca e Jorge Osvaldo La Salvia, também procurador de PC, serão convocados a depor. La Salvia teria sido responsável pelo transporte do dinheiro sacado.
A PF solicitou à Justiça que os procuradores de PC sejam ouvidos por meio de carta rogatória (pedido enviado para a Justiça de outro país). Ricca mora em Buenos Aires. Salvia tem endereço no Rio de Janeiro, mas estaria no exterior.
No Brasil, os procuradores de PC respondem a processos sob a acusação de remessa ilegal ao exterior de dinheiro obtido pelo empresário alagoano durante o governo Collor (90-92). Em depoimento à Justiça italiana, em outubro do ano passado, Ricca afirmou que apenas obedecia ordens de PC.
Segundo a polícia italiana, o rastreamento das contas de PC identifica também transferência de US$ 50 mil para a conta de um comerciante do Rio Grande do Sul.
Esse comerciante teria alugado uma casa para PC na Argentina, onde ele se refugiou, após fugir do Brasil em junho de 93, quando foi decretada a sua prisão.
Inquérito
O juiz Pedro Paulo Castelo Branco Coelho, da 10ª Vara da Justiça Federal, encaminhou ontem à Procuradoria Geral da República o inquérito que apura a ligação de PC com a máfia italiana.
Caberá ao procurador José Elaeres Marques Teixeira dar seu parecer sobre o inquérito para subsidiar o provável pedido de carta rogatória (pedido de informação judicial a outro país) que o juiz expedirá na próxima semana.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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