São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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70% das crianças que trabalham repetem

LUCIANA BENATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalho compromete os estudos das crianças. Entre crianças que trabalham, em seis capitais brasileiras, os índices de repetência escolar ficam entre 60% e 70%, quando a média entre o total dos alunos é de cerca de 20%.
Com frequência, a defasagem dos alunos que estudam é superior a um ano. Em São Paulo, 45% das crianças estão nessa condição.
Dados oficiais indicam que existem no Brasil cerca de 5 milhões de crianças entre 5 e 14 anos exercendo algum tipo de trabalho.
Os baixos salários dos pais, a ausência de uma política educacional de tempo integral, a deterioração das relações de trabalho e a importância atribuída ao serviço pela sociedade são apontadas como causas do trabalho infantil no país.
Essas conclusões fazem parte da pesquisa "O Trabalho Tolerado de Crianças de até 14 anos em Seis Capitais Brasileiras", do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), divulgada em São Paulo.
O estudo, feito a pedido da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), com apoio da OIT (Organização Internacional do Trabalho), foi o primeiro realizado no Brasil para verificar que consequências o trabalho traz à criança.
"Ao contrário do trabalho em carvoarias e no corte de cana, que a sociedade naturalmente rejeita, o trabalho infantil urbano é tolerado pela sociedade", diz a socióloga Suzanna Sochaczewski, técnica do Dieese que coordenou a pesquisa.
Segundo ela, a valorização excessiva do trabalho como solução para os problemas sociais faz com que as pessoas achem que o trabalho é bom até para as crianças.
"Ao ver uma criança entregando pizza, as pessoas ficam aliviadas. Acham que é melhor ela estar trabalhando do que no sinal assaltando ou cheirando cola", diz.
Para João Carlos Alexim, diretor da OIT no Brasil, a pesquisa comprova que o trabalho urbano também é prejudicial à criança. "O desemprego favorece a exploração infantil. Só com desenvolvimento tecnológico e social é possível erradicar o trabalho infantil", diz.
Entre as crianças pesquisadas, mais de 70% tinham menos de 14 anos, sendo que um terço do total começou a trabalhar antes dos 10 anos de idade. Para crianças com menos de 14 anos o trabalho é proibido por lei no país.
Os resultados da pesquisa também revelam que mais de 90% das crianças gostam de trabalhar. O principal motivo é que com seu salário elas ajudam a família.
A pesquisa foi feita em 95 e 96 com crianças que estudam em Belém, Recife, Goiânia, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre.

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