São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Celulari encarna D. Juan

DA SUCURSAL DO RIO

Um D. Juan amoral, sem preocupação com as convenções sociais e com a ética, chega aos palcos cariocas hoje e marca a volta ao teatro de dois grandes nomes: Edson Celulari, no papel-título, e Cacá Carvalho, como Sganarelo, o criado servil do fidalgo espanhol.
Celulari, afastado do teatro desde a montagem de "Capital Estrangeiro", de Sílvio Abreu, em 1995, acalentava há cinco anos a idéia de montar "D. Juan", de Molière, com tradução de Millôr Fernandes.
"É um texto sofisticado e ao mesmo tempo extremamente claro e afinado com os dias de hoje", diz Celulari, 39.
"A grande discussão nesse texto não é só a questão da sensualidade de D. Juan, mas sim como viver dentro de uma sociedade sem negar suas leis morais, sejam elas quais forem", afirma Cacá Carvalho, ator que encarnou no teatro o Macunaíma no final dos anos 70 e que há oito anos trabalha no Centro de Pesquisa Teatral de Pontedera, na Itália.
A montagem de Moacir Chaves, 32, procura respeitar a intenção de Molière: mais do que um conquistador, D. Juan é um homem que não se submete às regras e nem à hipocrisia das convenções sociais.
"A sedução é só uma das características de um homem que vai às últimas consequências para satisfazer seus desejos", diz o diretor.
Meticuloso, Chaves segue com fidelidade o texto. "Tenho a vantagem de uma tradução estupenda feita por Millôr. Parece que estou montando um clássico no original. Não me preocupo em seguir marcações rígidas em cena, mas quero a liberdade de criação do ator dentro do entendimento comum do texto", explica o diretor.
Foi exatamente essa característica de Chaves que levou Celulari a convidá-lo para dirigir a peça. "Moacir faz uma leitura respeitosa no melhor dos sentidos. Não é uma montagem da cabeça dele, mas sim com um respeito saudável ao texto, à palavra e à respiração da obra de Molière", afirma o ator.
O contraponto ao cinismo de D. Juan cabe a seu criado, Sganarelo. "Ele segue valores de uma formação moralista, de caráter, lealdade e integridade. Mas por conta dessa lealdade não consegue confrontar seu senhor", explica Carvalho.
A primeira aparição do personagem D. Juan aconteceu em 1630, no espetáculo "O Burlador de Sevilha", escrita por um monge espanhol que usava o pseudônimo de Tirso de Molina.
Nessa versão, D. Juan é um grande sedutor que acaba merecendo o inferno por não respeitar as leis matrimoniais. Anos depois, Molière (1622-1673) transforma o personagem num transgressor de todas as regras.
"É isso que traz a atualidade ao texto. Um personagem como esse, cínico e amoral, pode ser encontrado em qualquer lugar", diz Celulari.
A montagem de Moacir Chaves tem ainda no elenco Luís de Lima, como o pai de D. Juan, Gisele Fróes, Totia Meireles, Ana Barroso, Marcelo Escorel, Ludoval Campos e Henri Pagnoncelli.
Os cenários e figurinos da encenação são de Daniela Thomas. A peça, que estréia hoje, segue em temporada no Rio até junho. Em julho, será mostrada no teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
A partir de agosto, "D. Juan" fará turnê por Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Belém, Santos e Ribeirão Preto.

Peça: D.Juan, de Molière
Direção: Moacir Chaves
Com: Edson Celulari, Cacá Carvalho, Luís de Lima, Gisele Fróes, Totia Meireles, Ana Barroso, Marcelo Escorel, Ludoval Campos e Henri Pagnoncelli
Onde: teatro Villa-Lobos (av. Princesa Isabel, 440, Copacabana, tel. 021/275-6695) Quando: estréia hoje. Quinta a sábado, às 21h, domingo, às 20h; até junho
Quanto: R$ 20 (quinta), R$ 25 (domingo), R$ 30 (sexta) e R$ 35 (sábado)

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