São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Relações entre os líderes pioram gradativamente

DE WASHINGTON

Ao longo de dez encontros pessoais em quatro anos, Bill Clinton e Boris Ieltsin parecem ter desenvolvido legítima simpatia recíproca, que ficou mais evidente do que nunca em outubro de 1995, em sua mais recente reunião de cúpula.
Com o idílico cenário outonal da casa de campo de Franklin Roosevelt em Hyde Park, Nova York, ao fundo, os dois deram entrevista coletiva tão descontraída que Clinton se deixou dominar por intermináveis gargalhadas após brincadeiras de Ieltsin com jornalistas.
Mas o ambiente político entre os dois só piorou desde o primeiro encontro entre eles, em Vancouver, Canadá, em abril de 1994.
Ali, Clinton e Ieltsin se conheceram e celebraram a "nova parceria democrática" entre os dois países, selada com US$ 1,6 bilhão em ajuda dos EUA para a Rússia liberalizar sua economia.
A ratificação de acordos de desarmamento parecia certa, Ieltsin pareceu "cooperativo" na questão da ex-Iugoslávia, apesar do tradicional apoio russo aos sérvios, e todos se mostravam satisfeitos com as perspectivas.
Mas na segunda cúpula entre os dois, em Moscou, em janeiro de 1994, as coisas começaram a azedar. Clinton e Ieltsin foram muito simpáticos um com o outro. Os problemas políticos internos na Rússia, no entanto, impediram que qualquer progresso concreto nos pontos de divergência da agenda bilateral fosse obtido.
A terceira cúpula, também em Moscou, em maio de 1995, produziu as primeiras discordâncias públicas entre os dois líderes.
A questão da ampliação da Otan já era o principal ponto de discórdia. Ieltsin se recusou a aquiescer ao pedido de Clinton para que suspendesse a venda de reatores nucleares russos ao Irã.
O presidente dos EUA deixou claro que não aprovava as ações militares russas na Tchetchênia. "Nós temos diferenças, mas é possível administrá-las numa relação boa", disse Clinton após a cúpula. "As diferenças em relação a vários assuntos não desapareceram, mas o importante é continuar a discutir esses problemas", afirmou Ieltsin.
Em Hyde Park, as divergências se aprofundaram tanto que os dois preferiram evitar até mesmo se referir a elas diante de jornalistas.
"Quanto mais falarmos sobre isso, piores as coisas vão ficar", disse Clinton. Já Ieltsin desconversou assim, para a diversão de Clinton: "Li tantas reportagens de que essa cúpula seria um desastre que cheguei aqui cheio de apreensões. Agora, posso lhes dizer que vocês (jornalistas) são um desastre".
O encontro de hoje é considerado uma "cúpula de trabalho", em oposição a "cúpula de deliberações". Por isso, não se antecipa a divulgação de qualquer resultado nem a assinatura de acordos.
A tradição de reuniões de cúpula entre os líderes dos EUA e da então URSS começou em 1959, quando Dwight Eisenhower e Nikita Khruschov se encontraram em Washington. Clinton e Ieltsin passam a ser os líderes de EUA e Rússia que mais vezes se reuniram.

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