São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Ieltsin quer limitar expansão da Otan

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Boris Ieltsin está tentando obter o máximo possível dos EUA para dar sua concordância à expansão da Otan, que todos sabem ser inevitável. Ao mesmo tempo, ele tenta limitar esse crescimento aos países que pertenceram ao Pacto de Varsóvia, de modo a não incluir nele as ex-repúblicas soviéticas.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte foi o instrumento criado pelos EUA ao fim da Segunda Guerra Mundial para proteger seus aliados na Europa Ocidental de qualquer tentativa agressiva da ex-URSS e seus parceiros na Europa Oriental. Com o fim da Guerra Fria, o Pacto de Varsóvia, a aliança militar soviética, se desfez, e a Otan está se recompondo.
Nem tudo na retórica de Ieltsin contra a expansão da Otan é teatro. Embora no Ocidente seja lugar-comum encarar o fim da Guerra Fria como uma derrota soviética, muitos russos acham que ele foi a consequência de mudanças internas autônomas feitas na Rússia. Eles escolheram pôr fim ao seu poderio militar, acabar com o regime comunista e colocar sua economia na trilha do liberalismo.
Por isso, a Rússia se vê no direito de participar das decisões sobre o futuro da Europa e não quer ser "espremida para fora do continente", como disse Ieltsin, por uma aliança militar que, se não lhe é hostil, tampouco é sua parceira.
É verdade que Bill Clinton está oferecendo a Ieltsin a "Parceria para a Paz", de que se fala há seis anos, que compreende a presença de militares russos no quartel-general da Otan para comprovarem as intenções pacíficas da entidade.
Nacionalismo acirrado
Mas isso é pouco para o mercado político interno com que Ieltsin tem de se defrontar. O nacionalismo russo está em alta, tanto pela esquerda e quanto pela direita do presidente, e observadores tão isentos quanto George Kennan, o decano e ainda o mais ilustre dos especialistas em Rússia nos EUA, acham que a expansão da Otan só vai incitar ainda mais os sentimentos nacionalistas russos.
Mesmo Ieltsin parece acreditar que a história prova que uma Rússia militarmente enfraquecida pode ser alvo de agressões do Ocidente. Se agora elas não parecem prováveis, mudanças históricas podem mostrar um quadro diferente em pouco tempo, como já ocorreu no passado.
O mínimo que Ieltsin pretende obter é que as ex-repúblicas soviéticas fiquem de fora da Otan. Embora elas sejam agora nações soberanas, a Rússia continua a considerá-las como sua área de influência, como os EUA decerto consideram o Caribe e a América Latina.
A sensibilidade russa está sendo posta à prova, por exemplo, com o exercício naval que os EUA estão planejando fazer com a Ucrânia em julho na costa do mar Negro.
A "Operação Brisa no Mar" está irritando os nacionalistas russos como poucos assuntos desde o fim da Guerra Fria. Tropas dos EUA desembarcarão na península da Criméia durante essas manobras, e essa região é considerada vital para a segurança russa.
O cancelamento da "Operação Brisa no Mar", embora nada tenha a ver diretamente com a ampliação da Otan, é outro ponto essencial na agenda de Ieltsin com Clinton em Helsinque.
A contrapartida que o presidente russo espera obter de Clinton para concordar com a entrada na Otan a partir de julho de Polônia, Hungria e República Tcheca é um compromisso claro dos EUA com a inclusão da Rússia no grupo dos países mais ricos do mundo, o G-7.
É improvável que Clinton assuma esse compromisso em público hoje, mas pode ser que dê garantias suficientes em particular a Ieltsin de que isso vai acontecer.
(CELS)

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