São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Empresa admite que cigarro causa vício

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O grupo Liggett, produtor dos cigarros das marcas Chesterfield, Eve e Pyramid e detentor de cerca de 5% do mercado de tabaco dos EUA, acertou com 22 Estados do país acordo para pôr fim a processos públicos por mortes e enfermidades provocadas por fumo.
O acordo prevê o pagamento de 25% dos lucros da empresa nos próximos 25 anos para os Estados cobrirem despesas que têm tido com doenças causadas pelo consumo de cigarros. A Liggett também vai colocar na embalagem de seus produtos um aviso dizendo: "O fumo cria dependência".
O mais importante item do acordo, no entanto, é que a empresa vai entregar aos promotores públicos dos 22 Estados documentos até agora mantidos em segredo pelos produtores de fumo do país e que podem comprometer toda a indústria do cigarro norte-americana. A Liggett também vai liberar seus funcionários e dirigentes dos termos de seus contratos que até agora os impediam de testemunhar em ações judiciais contra ela.
O acordo está sendo considerado como o mais grave golpe contra a indústria de tabaco na história dos EUA. Ele quebra a unidade das empresas e pode ser, como disse um promotor, "o começo do fim do hábito de fumar" no país.
As ações de todas as empresas produtoras de cigarro perderam valor nas Bolsas de Valores norte-americanas ontem, em função do anúncio do acordo. As líderes do mercado, Phillip Morris e RJR Nabisco, anunciaram que não pretendem aderir ao acordo feito pela Liggett. A Phillip Morris afirmou que vai "continuar a se defender vigorosamente contra ações sem mérito pelas quais os Estados tentam recuperar os gastos que têm com assistência médica".
Para a Liggett, o acordo parece ter sido a melhor saída para sobreviver. Em 1996, ela já havia acertado com outros cinco Estados, em termos menos sensacionais.
Além dos processos que a maioria dos 50 Estados movem contra elas, as empresas produtoras de tabaco (que faturam US$ 45 bilhões por ano) também estão às voltas com ações coletivas movidas contra elas pelo sindicato de comissários de bordo do país e por vítimas do fumo e seus sobreviventes.
Se perderem essas ações, as indenizações podem levar toda a indústria de tabaco norte-americana à bancarrota. Os executivos das empresas também podem ser processados pelo governo federal, acusados de perjúrio, por terem testemunhado ao Congresso em 1994 que desconheciam o poder da nicotina de criar dependência física no fumante e que não haviam autorizado a manipulação dos níveis de nicotina em seus produtos.

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