São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Trabalho e baralho

CLÓVIS ROSSI

Wolfsburgo (Alemanha) - São 16h no relógio do bar-restaurante da estação ferroviária de Wolfsburgo, o coração do império Volkswagen.
Quatro operários da empresa jogam cartas com a pachorra de quem já deixou o trabalho e não tem muito a fazer nesta cidadezinha de 694 anos e 130 mil habitantes, dos quais 44,7 mil empregados na VW.
Operários jogando baralho às quatro da tarde? Sim. São os beneficiários da fórmula introduzida dia 1º/1/94: redução da jornada de trabalho em 20% (para 28,8 horas semanais ou 4,5 dias por semana), acompanhada de um corte de 15% no salário.
A alternativa era dispensar 30 mil dos 128 mil trabalhadores das 10 unidades da Volks na Alemanha.
Funciona essa fórmula, que é defendida pelo sindicalismo brasileiro, embora sem redução do salário? Na VW, sim: 75% de seus empregados se disseram satisfeitos em pesquisa feita no ano passado pela empresa.
Para a companhia, claro que sim. "Se voltássemos à situação daquela época, faríamos a mesma coisa", diz Klaus-Joachim Gebauer, responsável pelas Relações Trabalhistas.
Serve como panacéia universal? Gebauer não se anima a responder sim, embora a VW venha sendo procurada por empresas da Itália, Suíça e França, interessadas no modelo, pioneiro.
Em todo o caso, convém que de fato se estude a fundo a idéia, porque os números globais da VW são tremendamente indicativos da profundidade da crise do emprego: "Em 1992, produzíamos 3 milhões de carros, no mundo todo, com 280 mil empregados; em 96, fabricamos 4 milhões com apenas 243 mil funcionários", contabiliza Hans-Peter Blechinger, porta-voz do grupo.
A diferença com a maior parte do mundo, Brasil inclusive, é que o salário médio do operário da Volks alemã, mesmo após o corte de 15%, é de 4.500 marcos (ou cerca de R$ 3.000) por mês. Aí, dá para jogar baralho na estação.

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