São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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BNDES descarta investigar Merrill Lynch

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O presidente do BNDES, Luís Carlos Mendonça de Barros, disse ontem em Belo Horizonte que o órgão não abrirá sindicância sobre a empresa de consultoria Merrill Lynch, que integrou o consórcio que definiu o modelo de venda da Vale do Rio Doce.
A sindicância é uma exigência dos opositores da privatização da Vale no Congresso Nacional. Eles querem investigação sobre a ligação da Merrill Lynch com a mineradora sul-africana Anglo-American, interessada em participar do leilão da estatal brasileira, marcado para o dia 29 de abril.
"Não há nenhuma questão legal que impeça a participação da Merrill Lynch no consórcio que auxiliou o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", disse Barros.
Segundo ele, essa questão já foi analisada com base nos argumentos da própria Merrill Lynch e também em documentos fornecidos pela Bolsa de Valores de Johannesburgo (África do Sul).
"A relação que ela (Merrill Lynch) tem com a Anglo-American na África do Sul é administrativa, fruto da aquisição de um grande banco inglês (SNC - Smith New Court) cinco meses antes de ela ter ganho a licitação (para modelagem) da Vale", afirmou.
A oposição no Congresso questiona o fato de a Merrill Lynch ter comprado o SNC, que controla o banco o SBH (Smith Borkum Hare), na África do Sul, que tem ligação com a Anglo-American.
Barros participou na Assembléia Legislativa de Minas de um debate sobre a privatização da Vale.
Ele foi muito vaiado por cerca de 150 pessoas ligadas a sindicatos e partidos de oposição ao governo federal, que ocuparam as galerias do Legislativo mineiro.
O presidente do BNDES, quando fazia a defesa da privatização, foi interrompido diversas vezes pelos manifestantes, não conseguindo concluir sua fala. Ele se referiu aos manifestantes como "pessoas que não entendem a democracia e não participam dela".
O deputado estadual Marcos Helênio (PT) ocupou o microfone do plenário para rebater Barros: "Somos responsáveis, queremos debate, mas queremos respeito".
Barros retrucou, encerrando em seguida a sua fala: "Desrespeito é ouvir chamar o presidente da República de ladrão".
Também defenderam a privatização o deputado federal Roberto Brant (PSDB-MG) e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Stefan Salej.
Na oposição, estavam o ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves, a senadora Júnia Marise, o brigadeiro Ivan Frota, o deputado federal João Domingos Fassarella (PT-MG), e o ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) d. Luciano Mendes de Almeida.
D. Luciano criticou a "aceleração da decisão política" de se privatizar a Vale. "A aceleração que está sendo imposta ao processo -vou dizer uma palavra forte- é por medo do povo", afirmou.
O brigadeiro Ivan Frota disse que uma pesquisa recente realizada no Clube Militar revelou que 69% dos oficiais da ativa e da reserva são contra a privatização da Vale.

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