São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Meninos de rua do Rio conhecem Monet

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

"Se eu encostar a mão, o que acontece?". A dúvida de Edílson Franklin de Oliveira, 14, foi logo respondida por um dos seguranças da exposição Monet, no Museu Nacional de Belas Artes, no centro do Rio: "Se todo mundo encostar a mão, vai acabar sujando o quadro e outras pessoas não vão poder ver".
Edílson foi um dos quase 50 meninos de rua que visitaram ontem à tarde a mostra de trabalhos do pintor impressionista francês.
Depois da explicação, Edílson passou a ajudar os seguranças. "Não encosta para não estragar", dizia o menino.
Recolhidos pelas ruas do centro em um ônibus do Juizado de Menores, os meninos de rua, em sua maioria descalços, passaram quase duas horas no museu.
Alguns visitantes não conseguiam esconder a emoção ao ver os meninos de rua admirando as pinturas. Outros não escondiam o desagrado.
"Essas crianças deviam ser sempre tratadas assim, com respeito", disse a dona-de-casa Ana Maria Neves, 45, enquanto explicava para uma menina como Monet havia se inspirado nos jardins de sua casa em Giverny para fazer seu trabalho.
"Joguei dinheiro fora. Fui chegar aqui logo agora, na hora que essas crianças estão aqui. Vou embora", reclamou uma mulher de meia-idade que não quis se identificar.
Antes de deixar o museu, irritada, ainda se queixou com um segurança de que "aquela bagunça" não devia ser permitida.
As perguntas das crianças -muitas carregando nos braços seus filhos ainda bebês- mostravam o espanto diante do museu. "Se fosse para vender, quanto custava?", perguntou Jefferson Santos, 11, apontando para uma das telas.
Cláudio Silva de Lima, 15, morador de Irajá e que costuma ficar pelas ruas da Lapa (centro do Rio), observou atentamente todos os quadros. Depois, na sala Linéia (onde educadores orientam crianças a fazer trabalhos relacionados à exposição), pegou lápis e começou a desenhar.
"Aqui é bom porque a gente deixa de lado aquelas bobeiras que faz na rua, não fica fazendo o que não deve", disse.
O juiz da Infância e da Juventude Siro Darlan, que organizou a visita dos meninos de rua, ficou satisfeito com os resultados. "Isso é uma maneira de mostrar que as duas sociedades podem conviver com respeito, sem agressões", disse.
Para o pintor Antonio Veronese, que trabalha com crianças e adolescentes infratores, a visita foi muito importante para as crianças. "Elas precisam recuperar sua emoção, precisam parar de achar que são ruins."

Texto Anterior: Operário fica 1 mês preso por engano
Próximo Texto: Globalização afeta saúde, diz médica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.