São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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Alunos devolvem fitas com Hino Nacional

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 25 alunos da escola municipal Dr. Miguel Vieira Ferreira, em Interlagos, zona sul de São Paulo, devolveram ontem para a Secretaria Municipal da Educação 440 fitas com o Hino Nacional e outros hinos cívicos brasileiros.
A secretaria adquiriu 800 mil fitas cassete e as distribuiu para os alunos da rede municipal. Foi gasto R$ 1 milhão com a compra.
Os alunos, em manifesto entregue ao chefe de gabinete da secretaria, Moacir Tutui, alegaram não ser contra os hinos, "mas, a falta de esclarecimento sobre as fitas e a forma como foram compradas pela prefeitura."
Os alunos acabaram saindo sem as respostas, já que Tutui informou aos estudantes que não tinha em mãos os documentos do processo de compra das fitas, que estariam com a Secretaria de Finanças. Ele prometeu (veja texto abaixo) divulgar o documento na terça-feira.
Eduardo Valdoski, 14, aluno da 8ª série, e diretor do grêmio Giordano Bruno, que representa os alunos da escola, disse que faltam professores, livros e equipamentos onde estuda. Para ele, o dinheiro poderia ser melhor aplicado.
Valdoski também questiona a quantidade de fitas. "Poderiam ter dado uma para cada professor."
Segundo a Fundação Para o Desenvolvimento da Educação, o preço médio do livro didático adquirido pelo governo federal é de R$ 3,47. Com o dinheiro gasto com as fitas, poderiam ser comprados 288.184 livros.
Problemas
Além de cobrar esclarecimentos por parte da prefeitura, Valdoski e seus colegas enumeraram os problemas porque passam a escola.
Na Miguel Vieira Ferreira faltam professores das disciplinas ciências e matemática e os livros de história, geografia e ciências de 97.
Os alunos querem também a construção de uma nova sala de professores, já que a atual também serve de sala de vídeo.
A secretaria defendeu no encontro com os alunos o conteúdo pedagógico das fitas, dizendo que além delas foi distribuído material de apoio para os professores prepararem as aulas.
Os estudantes negaram ter recebido qualquer preparação. "Recebemos as fitas e as levamos para casa, só isso", disse Valdoski.
O professor de cultura brasileira e vice-diretor da Escola de Comunicação e Artes da USP, Waldenyr Caldas, criticou a compra das fitas. "É uma medida desnecessária e uma afronta ao bom senso. É dinheiro jogado fora", disse.
Ele questionou também a validade pedagógica do ensino do hino. "Isso é uma exacerbação de um nacionalismo só comparável à época dos governos militares."

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