São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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Jean-Baptiste pode ganhar estatueta por primeiro filme

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Diferentemente das outras atrizes concorrendo ao Oscar de melhor coadjuvante este ano, a britânica Marianne Jean-Baptiste, 30, não teve o privilégio de compor sua performance baseada num roteiro.
Para criar a Hortense de "Segredos e Mentiras", ela recebeu apenas informações genéricas do diretor Mike Leigh. "Ele me disse que o papel poderia ser enorme ou minúsculo, mas prometeu que eu iria me divertir durante as filmagens", revelou ela durante uma entrevista em San Francisco.
Marianne afirma que, quando começou a filmar "Segredos e Mentiras", ela já conhecia o método de trabalho de Mike Leigh, que exige boa bose de improviso e disponibilidade integral dos atores durante seis meses. "Foi assim também quando ele me contratou para a peça 'It's a Great Shame' em 1993", diz ela.
Aproveitando o estilo do diretor, Marianne mergulhou fundo na criação de sua personagem. "Senti-me livre para criar a Hortense que eu queria e parte do meu tempo de laboratório passei comprando coisas para o apartamento dela", revela. "Andava pelas ruas de Londres com uma bolsa que não tinha nada meu, mas tudo de Hortense, desde o batom até as chaves da casa."
Acostumada com os altos e baixos de uma longa carreira nos palcos de Londres, Marianne revela que o fato de ter trabalho garantido por seis meses contou bastante na sua decisão de trabalhar no filme. "Além de ser dirigida por Mike Leigh, paguei as contas em dia durante seis meses", diz ela. "Em Londres, isso é um luxo."
Mesmo tendo sido seu primeiro filme e com bases tão frágeis, Marianne afirma que não se sentiu insegura. "Eu não sou uma pessoa medrosa", diz ela. "Sabia que ele tinha feito o mesmo antes e que tinha dado certo."
Ao contrário de clamar autoria da personagem, a atriz considera as vagas instruções recebidas durante a filmagem como fundamentais. "Dá certo não saber o que estamos fazendo e quem vamos encontrar em seguida", diz ela. "Mike Leigh consegue as melhores performances usando essa técnica. É trabalho duro, intenso, mas muito recompensador."
Segundo a atriz, a cena em que ela mais se envolveu emocionalmente é quando pergunta à mãe se o pai era um homem bom. "Hortense nem queria de verdade que Cynthia contasse na frente dos outros", diz Marianne. "Mas quis aproveitar sua nova liberdade de indagar."
A parceria com Leigh continua no próximo filme dele, "Career Girls". Só que desta vez Marianne mostrará seu talento como compositora de parte da trilha sonora. "Gravei um disco de blues há cinco anos", diz ela. "Sempre cantei, escrevi e atuei ao mesmo tempo."
O cortejo de Hollywood não a assusta nem encanta, apenas é encarado como trabalho. "Os grandes estúdios fazem filmes horríveis, mas há outros maravilhosos", analisa.
"Cresci assistindo a filmes de Hollywood e claro que gostaria de fazer parte de um desses."
Antes, porém, ela poderá ser vista em "Mr. Jealousy", de Noah Baumbach, ao lado de Eric Stoltz e Annabella Sciorra.
(AG)

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