São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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"Do Fundo do Lago Escuro" exibe hipocrisia familiar

DANIELA ROCHA
DA ENVIADA ESPECIAL

Toda a poeira que uma família brasileira classe média dos anos 50 acumula durante anos debaixo do seu tapete é levantada em "Do Fundo do Lago Escuro", montagem do grupo Tapa, de São Paulo, que faz sua estréia nacional hoje, às 20h, no Festival de Teatro de Curitiba.
No elenco, no papel de uma matriarca autoritária, está Beatriz Segall. O texto é do dramaturgo Domingos de Oliveira. "Ele costuma dizer que o texto é uma ficção biográfica, porque o foco da história, que se passa em 1954, é um menino de 12 anos", afirmou Eduardo Tolentino, diretor do Tapa.
A história tem como ponto central o ocultamento da morte de uma cachorrinha ao menino Rodrigo, de 12 anos, "para que ele não sofresse". O fato serve como metáfora de toda a hipocrisia da família. As vergonhas são "escondidas", mas percebidas por ele.
O pano de fundo da trama é a presidência de Getúlio Vargas e a oposição de Carlos Lacerda. "Aquela era uma época em que as relações em família eram muito diferentes. Os pais eram muito autoritários, e isso teve consequências sociais fortes que sentimos até hoje", afirmou Beatriz Segall.
A consciência política também era outra. "Éramos pouco politizados. Minha personagem gostava de ouvir os discursos de Carlos Lacerda no rádio para se distrair. Hoje existe um outro sentido. Diferentemente daquela época, a imprensa divulga tudo o que acontece no meio político", disse a atriz.
No correr de um dia, sutis acontecimentos mudarão o rumo de sua história. "Nada é evidente neste texto, mas, a partir desse dia, a família não vai mais ser a mesma", afirma o diretor.
(DR)

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